Regras atuais não garantem que negociações
entre empresas e trabalhadores sejam reconhecidas pela Justiça
Brasil precisa urgentemente atualizar sua legislação
trabalhista. Durante o evento Fóruns Estadão Brasil Competitivo: Modernização
do Trabalho, na terça-feira, sindicalistas e empresários apontaram a
necessidade de mudança das regras atuais, que tiram a competitividade do Brasil
no mundo.
A legislação em vigor é complexa e anacrônica, e a insegurança
jurídica é tão grande que qualquer acordo assinado entre trabalhadores e
empresas não é definitivo, pois pode ser anulado pelo Judiciário. O evento foi
promovido pela Agência Estado e pelo jornal O Estado de S. Paulo,
com o apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Adauto
Duarte, diretor da Fiat do Brasil e diretor regional da Anfavea, defendeu um
pacto político nacional como única forma de melhorar as relações trabalhistas
no Brasil. Esse pacto consistiria essencialmente de um diálogo tripartite,
envolvendo empresas e sindicatos de um lado e, de outro, os poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário.
Como
exemplo dos problemas atuais, Duarte citou a legislação que criou a
participação nos lucros e resultados das empresas, que originalmente surgiu
para estimular a competitividade e se tornou motivo de greves ou conflitos com
auditores. "Qualquer termo de negociação hoje pelas empresas pode receber
interferência do Judiciário. Não existe uma negociação definitiva", disse
o executivo.
Duarte
queixou-se ainda da dificuldade de se promover negociações coletivas no Brasil,
pois a legislação contém 2.500 normas e, nos últimos dez anos, foram criadas 25
mil termos. Ele prevê que nos próximos dez anos haverá maior consciência social
e busca por sociedades mais justas e menos sindicatos com maior poder de
negociação.
O
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, afirmou que é
preciso contar com sindicatos fortes para que as negociações coletivas de
trabalho sejam mais seguras e abrangentes. "A valorização das negociações
coletivas no Brasil passa pela credibilidade e confiança, que se constrói
através das estruturas", afirmou.
Segundo
Marques, há atualmente uma pulverização das organizações sindicais, o que é
extremamente prejudicial para a construção de uma mesa de negociação estável e
forte. "A baixa taxa de sindicalização no Brasil é reflexo de uma
estrutura envelhecida e da baixa busca por novos associados. Este é um momento
de repensar as estruturas", comentou.
O
presidente do sindicato apontou que o modelo trabalhista trazido pela
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi extremamente importante e inovador
quando surgiu. Atualmente, Marques defende que a forma para fortalecer as
estruturas e avançar nas negociações coletivas no Brasil é por meio de
"sindicato forte, representação patronal forte e negociação transparente
com assembleias".
Competitividade. O
diretor da Fiat lembrou que, no cenário atual, as empresas disputam preços no
mercado e que a inflação tem crescido acima desses preços e os custos,
aumentado mais que o produto. "A consequência disso é o que aconteceu na
Europa, como na Grécia e na Espanha", disse o executivo, referindo-se à
crise econômica que abateu os dois países.
Ele
acrescentou que o sindicato com sua legitimidade tem defendido a sua base, mas
que é preciso entender que o preço cai ainda mais com a entrada de novos
concorrentes no mercado. Para Duarte, esse cenário demonstra que é preciso
haver mudanças e observa que no mundo todo os conflitos trabalhistas
encolheram.
O
debate de terça-feira evidenciou a polêmica sobre as negociações coletivas que
definem a redução do horário de almoço dos trabalhadores. Duarte afirmou que o
Judiciário deveria acolher essas negociações coletivas.
A
solução para o impasse, segundo ele, seria a Justiça dialogar com o sindicato
dos trabalhadores bem como com a entidade patronal para entender o que os levou
a chegar a essa decisão antes de rejeitá-la. "Não precisa mudar a lei,
basta que o TST ou a Justiça do Trabalho entenda que é válido o acordo feito.
Há embasamento na Constituição para isso", disse Duarte.
Ele
comentou ainda que há países da Europa em que categorias decidiram pela redução
do horário do almoço, por exemplo, por negociação coletiva, com compensações
definidas.
Rafael
Marques afirmou que já se deparou com caso de redução do período de almoço, mas
compensado por folga em sábados alternados. "É preciso dar mais
credibilidade para a negociação coletiva via reestruturação das
instituições", reiterou.
Os
dois comentaram ainda o fato de setores ligados à cadeia automotiva pautarem
seus acordos salariais pelos reajustes concedidos pelas montadoras. "Todos
aqueles que assinam estão seguros de que é a melhor negociação do
momento", comentou o diretor da Fiat.
Marques
lembrou que o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC não conseguiu chegar a um
acordo coletivo com o grupo de Sindipeças pelo fato de as empresas do setor não
aceitarem acompanhar o reajuste das montadoras. "O setor de autopeças não
acompanhou a exuberância das montadoras em sua plenitude", ponderou.
Evolução. O
aumento da produtividade da economia brasileira tem de passar necessariamente
pela modernização da legislação trabalhista, disse a diretora de relações
institucionais da Confederação Nacional da Industrial (CNI), Mônica Messenberg.
"A
legislação trabalhista não acompanhou a evolução das últimas décadas",
afirmou. Mônica apontou ainda que a modernização das relações de trabalho é uma
das agendas mais importantes para o País no que diz respeito ao aumento da
produtividade e consequente competitividade nacional.
Na
última década, a produtividade do País permanece praticamente estável, enquanto
a de países como a Coreia do Sul cresce em média 5% ao ano, apontou a diretora
de relações institucionais da CNI.
"A
legislação trabalhista é um fator estratégico que poderá dificultar ou induzir
(ganhos de produtividade no trabalho)", completou.
0 comentários:
Postar um comentário