Depois de encerrar 2012 com
uma alta tímida de 7,4%, o Índice Bovespa degringolou neste ano. A promessa de
uma virada da bolsa, tão decantada nas últimas semanas em diversos relatórios
de bancos e corretoras, ainda não se concretizou. Até sexta-feira, dia 24, o
Ibovespa acumulava perda de 7,46%.
E a safra de divulgação de
resultados das companhias abertas no primeiro trimestre não encorajou os
investidores a apostar em uma reação expressiva do Ibovespa. No mês, o indicador
tem leve alta, de 0,89%, e mostra falta de fôlego para se manter acima dos 56
mil pontos. O retrato das expectativas para as principais companhias e setores
que integram o Ibovespa, após os números do primeiro trimestre, é o do copo meio
cheio, meio vazio. Do lado positivo, aparecem os bancos e a Petrobras, que
reagiram nos últimos meses e prometem resultados melhores. Na ponta negativa,
estão a Vale, as siderúrgicas, as elétricas e a OGX, petroleira do empresário
Eike Batista. Além de mostrarem resultados fracos nos três primeiros meses do
ano, não acenam com uma melhora substancial daqui para frente.
Para o Ibovespa deslanchar,
é preciso que haja uma trajetória positiva concomitante de Vale e Petrobras. O
problema é que, enquanto a maioria dos analistas vê uma melhora, mesmo que sujeita
a solavancos, dos números da Petrobras, os prognósticos para a Vale seguem para
lá de incertos. "A Petrobras até tem dado uma contribuição positiva para o
Ibovespa. Mas a Vale ainda enfrenta problemas", diz Jorge Simino, diretor
de investimentos da Fundação Cesp.
Além das dúvidas sobre o
preço do minério de ferro, muito atrelado à demanda da China, cujo ritmo de
crescimento diminuiu a Vale sofre com incertezas jurídicas, diz Simino. As
principais são a possibilidade de que Congresso Nacional aprove um novo código
de mineração e a disputa jurídica em torno da tributação dos lucros das
coligadas e controladas no exterior. "É muita incerteza e, na dúvida, a
projeção é sempre pessimista", afirma Simino, ressaltando, porém, que,
"dá porta para dentro, a empresa está fazendo um ótimo trabalho".
Para Ricardo Correa, chefe
de análise da Ativa Corretora, contudo, o resultado da Vale no primeiro
trimestre foi positivo, com destaque para as áreas de níquel, cobre e carvão.
Ele destaca também a gestão da empresa, que mostra bons níveis de eficiência.
"Neste segundo trimestre, apesar de uma piora no preço do minério, a
companhia deve continuar a apresentar uma melhora, com redução de custos e foco
em metais não ferrosos", afirma. Correa projeta Ibovespa aos 70 mil pontos
no fim do ano. "O que pode estragar o cenário para a Vale na bolsa é uma
desaceleração mais forte na China."
Se as opiniões se dividem em
relação aos destinos da Vale, há, em geral, um certo alinhamento em relação às
perspectivas para a Petrobras, beneficiada pelo reajuste surpreendente do
diesel anunciado em março. "A empresa deve mostrar uma melhora da curva de
produção a partir do segundo semestre. O próximo ano deve ser muito bom",
afirma Correa. "Esperamos uma recuperação da produção ao longo do ano, o
que deve impulsionar o papel", diz Andrew Campbell, estrategista do Credit
Suisse, que passou a recomendar novamente o papel, após dois anos e meio com
uma visão negativa sobre a ação.
No caso dos bancos, o pior
momento da inadimplência parece ter ficado para trás e há sinais de um aumento
saudável do crédito. " Bradesco, Banco do Brasil e Itaú tiveram um
crescimento em relação ao
primeiro trimestre do ano passado. E há claros sinais de melhora da qualidade
do crédito", afirma Mario Mariante, chefe de análise da Planner,
ressaltando que o Banco do Brasil deve mostrar neste segundo trimestre o
impacto positivo da oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da BB
Seguridade, seu braço de seguros e previdência.Simino, da Fundação Cesp, lembra
que a perspectiva de novas elevações da taxa Selic, hoje em 7,50%, traz a
expectativa de uma melhora da rentabilidade dos bancos. "É um setor que
pode dar um suporte para o Índice Bovespa", diz.
Carlos Eduardo, analista do
BB Investimentos dedicado ao setor financeiro, aposta que a Selic vai encerrar
o ano em 8,5%, o que deve trazer ganhos para o setor. "E o primeiro
trimestre mostrou um crescimento do crédito com mais qualidade, principalmente
para Bradesco e Itaú", afirma. Já as siderúrgicas, outrora estrelas da
bolsa, transformaram-se em uma das âncoras do Ibovespa. "As expectativas
de lucros para empresas como Usiminas e Gerdau foram rebaixadas após os
resultados do primeiro trimestre", ressalta o estrategista do Credit
Suisse. "A inflação de custos afetou todas as empresas do setor. As
empresas não conseguiram repassar esses custos ao consumidor", diz Correa,
da Ativa, que acredita em uma melhora no segundo trimestre.
O estrategista da SLW, Pedro
Galdi, destaca as ações da Gerdau, que podem se recuperar ao longo do ano.
"A empresa teve um lucro fraco no primeiro trimestre muito por conta de
uma parada técnica da produção que já estava programada, mas deve se recuperar
gradativamente, já que pode se beneficiar de uma melhora da economia
americana", afirma.
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