Consórcio responsável por obra na fábrica de fertilizantes da Petrobras demite quase 600 trabalhadores




Trabalhadores que estavam contratados pelo Consórcio UFN III, para trabalhar na construção da fábrica de fertilizantes da Petrobras, em Três Lagoas, foram demitidos ontem. A demissão ocorreu um dia após um numeroso grupo de operários ter ateado fogo em um ônibus,  um caminhão e no alojamento que abrigava cerca de 1.500 trabalhadores, localizado nas proximidades do canteiro de obras da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados no Distrito Industrial 3 de Três Lagoas.
De acordo com o advogado do Consórcio UFN III, Marcos Cruz, ao todo, foram demitidos 578 trabalhadores. Desses, 178 tiveram comprovada a participação em atos de vandalismo. O restante, explicou, foi dispensado a pedido ou por ter participação indireta com os crimes ou ligação indireta com o grupo identificado pela empresa.  “O Consórcio fez uma reunião com os trabalhadores na construção da fábrica e perguntou quem estava a fim de trabalhar e continuar na empresa. Os que não quiseram, a empresa se comprometeu a pagar todos os seus direitos e providenciar o retorno dos que são de fora para os seus estados de origem. Na manhã de ontem, uma lista com 146 nomes de trabalhadores demitidos foi afixada na parede da sede do Consórcio UFN III. A relação dos nomes nessa lista era apenas dos trabalhadores que residem em Três Lagoas, Castilho e Brasilândia. Os demais, residentes em outros  Estados, receberam a comunicação no alojamento localizado no bairro JK. Assim que  eram notificados, simultaneamente era solicitado que pegassem seus pertences e fossem para os ônibus disponibilizados para levá-los até o Papillon Eventos, local onde a empresarealizouarescisãodecontratosdetrabalho.

POLICIAMENTO
O comandante da Polícia Militar, tenente-coronel Wilson Sérgio Monari, disse que a presença dos policiais no local se fazia necessária, não para coagir os trabalhadores, mas para garantir a segurança deles. “A maioria são pessoas humildes, trabalhadores e pais de família que vieram para a cidade em busca de melhores condições de vida para seus familiares. Deixei isso bem claro: que a nossa presença aqui era para garantir a segurança deles”, frisou.

De acordo com Monari, os trabalhadores seriam transportados de ônibus até Campo Grande, onde receberiam passagens aéreas com destino às suas cidades de origem. “Foi um processo tranquilo. Buscamos resolver essa questão juntamente com a empresa da melhor maneira possível. Alguma coisa precisava ser feita para garantir a ordem em Três Lagoas e a segurança dos que querem trabalhar”,destacouocomandante.

Monari confirmou o que foi dito pelo advogado do Consórcio, de que está sendo feito um trabalho na tentativa de identificar os demais responsáveis pelo vandalismo ocorrido, não apenas na última segunda-feira, mas em outros dias de paralisação. Dois trabalhadores, apontados como responsáveis pela desordem, estão preso no Presídio de Segurança Média.

NÃO CONCORDARAM 
Alguns trabalhadores que estavam no local alegaram que foram demitidos injustamente, pois não participaram do “quebra-quebra”. “Muitos agora se fazem de santinhos”, retrucou o advogado do Consórcio. Entretanto, os representantes do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil Pesada (Sintespav), que acompanhou a rescisão contratual, disseram que, em alguns casos, pode ser havido equívoco e que estariam analisando cada situação.
Já outros trabalhadores informaram que quiseram sair porque a situação em Três Lagoas ficou insustentável em relação ao trabalho no canteiro de obras da Unidade de Fertilizantes. A maioria dos que foi demitido estava há menos de um ano na cidade. 

 Trabalhadores terão que voltar para alojamento
Conforme o advogado do Consórcio UFN III, os trabalhadores  terão que voltar para o comodato, localizado nas proximidades do canteiro de obras. Ele informou que duas alas do alojamento e o refeitório foram destruídos. “Já estamos providenciando os reparos necessários e, assim que estiver tudo pronto, sem nenhuma situação que possa colocar em risco a vida dos trabalhadores, eles voltam para lá. Apesar do incêndio não ter atingido a maior parte do alojamento, só podemos abrigá-los no local, quando estivermos certos de que não haverá problemas. Precisamos garantir também que eles estarão seguros lá”, acrescentou.
Marcos Cruz fez questão de ressaltar que, esses trabalhadores não podem ficar na cidade, já que no contrato do Consórcio com a Petrobras, consta de que, eles deveriam ficar em um comodato a 10 quilômetros do canteiro de obras. Segundo o advogado, essa decisão deve-se a uma audiência pública realizada antes do início das obras. “A maioria dos trabalhadores está satisfeita. Assim que resolver essa situação, vamos convidar a imprensa para que possa conhecer melhor olocal”,salientou.
GREVE
A previsão era de que os trabalhadores voltassem hoje ao canteiro de obras depois de permanecerem 17 dias em greve – somando a primeira greve iniciada na segunda quinzena de junho. Durante esse período, várias audiências de conciliação foram realizadas na sede do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), em Campo Grande, na tentativa de que se chegasse a um acordo, entre trabalhadores, sindicato e empresa.
O Consórcio comprometeu-se a instalar, no prazo de 120 dias, aparelho de ar condicionado em todos os apartamentos do alojamento dos trabalhadores, ampliar em 30%, em até 180 dias, a capacidade do refeitório. Dentro de 120 dias deverá realizar a classificação dos trabalhadores ocupantes dos cargos de ajudantes e corrigir os desvios de função que foram comprovados. Comprometeu-se a depositar o valor da folga de campo até o dia 20, antecedente ao mês da "baixada".
O Consórcio garantiu ainda alterações nos horários de ônibus do comodato para Três Lagoas nos dias úteis e nos finais de semana, assim como mais locais de parada do ônibus. Ficou decidido também que os dias paralisados serão compensados aos sábados. O reajuste de 10% para toda a categoria, assim como a mudança de alojamento não foi aceito pelas empresas.

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