Depois de registrar um ano recorde de reajustes
salariais acima da inflação em 2012, o primeiro semestre deste ano tem
demonstrado um recuo no desempenho dos novos acordos coletivos. Ainda sem
consolidar os dados de 2013, o Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta cerca de 87% das negociações acima do
INPC-IBGE, desempenho inferior aos 94,6% obtidos no ano passado inteiro. Outro
resultado que tem caído é o índice de ganho real, que é o valor acima do
aumento da inflação. Se em 2012 ficou em1,9%, até agora está em 1,4%.
“Temos
que lembrar que é prematura qualquer conclusão, mas no primeiro semestre há uma
tendência de termos resultados ligeiramente inferiores a 2012. Acreditamos que
teremos um melhor desempenho no segundo semestre pois temos a data-base de
categorias com maior tradição de negociação”, afirma José Silvestre Prado de
Oliveira, coordenador de relações sindicais do Dieese.
Um fator
é decisivo na redução do ganho real do trabalhador: a alta da inflação. Os
reajustes realizados no primeiro semestre levaram em conta o INPC dos últimos
12 meses, superior ao do ano passado. “As categorias que negociaram no primeiro
trimestre tiveram uma inflação para 12 meses mais alta. Agora, os indicadores
de preço já estão indicando uma queda. Assim, os acordos do segundo semestre
devem pegar uma inflação menor e uma economia que vai crescer mais”, completa
Silvestre.
Por tudo
isso, apesar da retração no desempenho nos primeiros meses de 2013, o
especialista acredita que os resultados devem ficar próximos ao do ano passado.
“A nossa aposta é de resultados parecidos. Se tiver um resultado inferior ao
número de reajustes acima da inflação, ou do ganho real, ele será mínimo. Se a
inflação é uma variável que puxa para um lado, a compensação deve ser um melhor
desempenho da indústria em crescimento maior da economia”, destaca.
A
expectativa de manutenção de um cenário de reajustes salariais acima da
inflação promete um segundo semestre agitado nas negociações. Entre os setores
que discutirão o aumento estão grupos com tradição e força no debate, como
metalúrgicos, petroleiros químicos, têxteis, alimentação e bancários.
“Nossa
expectativa é aumento real. Se olhar no primeiro trimestre, os bancos continuam
lucrando e pagando bônus elevados aos executivos. Não tem por que diminuir o
ganho real do trabalhador que é pai e mãe de família”, avisa Juvandia Moreira
Leite, presidente do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo,
Osasco e Região. Vale lembrar, que em 2012, a classe dos bancários conseguiu um
ganho real de 2%.
O entrave principal no debate pelo reajuste
salarial com ganho real é a busca dos sindicatos em projetar uma inflação
futura que os empresários não
acreditam. Segundo o economista Manuel Enriquez Garcia, presidente da Ordem dos
Economistas do Brasil, se a inflação recuar pode afetar os resultados das
empresas no longo prazo. “Como os sindicatos não sabem qual vai ser a inflação
do futuro e desconfiam que o governo não está combatendo a inflação, começam a
exigir taxas superiores para preservar o salário no futuro. Só que isso pode
gerar um aumento acima do programado para as empresas”, salienta.
Essa
preocupação tem sido demonstrada pelo governo, que tem apontado o reajuste
salarial como um possível vilão da inflação futura. No entanto, este ponto gera
divergências da classe sindical. “É um discurso atrasado. A economia cresce se
tiver dinheiro no bolso para fortalecer o mercado interno. É uma tentativa do
governo de fugir do debate necessário de melhorar a infraestrutura, que
ampliaria a circulação da mercadoria”, diz João Carlos Gonçalves,
secretário-geral da Força Sindical.
0 comentários:
Postar um comentário