A possibilidade de redução dos estímulos à economia pelo Federal Reserve (Fed,
banco central dos EUA) continuou dando o tom da movimentação das cotações das
commodities agrícolas no começo desta semana. Nesta segunda-feira, as cotações
de trigo e de milho lideraram as perdas na Bolsa de Chicago com quedas de 19,5%
e 7%, respectivamente. Na semana passada, as cotações dos produtos sofreram sua
maior queda em 18 meses, e o Índice de Preços Agrícolas, referente aos preços
no atacado no mercado interno, caíram 0,9%.
Além da mudança de direção da autoridade monetária
norte-americana, as cotações também foram influenciadas pela rejeição do Senado
do país à Farm Bill, a lei de política agrícola que liberaria US$ 940 bilhões à
agricultura nos próximos dez anos.
Por parte da China, a indicação de que o banco
central do país também reduza a liquidez, promovendo uma crise de crédito,
também afetou a precificação das commodities em Chicago.
O diretor da consultoria Job Economia, Julio
Borges, explica que a restrição monetária nos Estados Unidos está atraindo
investidores estrangeiros ao país, na medida em que a decisão indica que a
economia norte-americana está se recuperando e há possibilidade de uma alta na
taxa de juros, o que daria mais rentabilidade aos investidores.
Apesar de acreditar que esse movimento tem prazo
para acabar, o analista ressalta que a tendência das cotações é ficar em um
patamar menor neste ano por causa das safras recordes no Brasil e nos Estados
Unidos, principalmente no caso do milho.
O diretor da Associação Brasileira dos Produtores
de Milho (Abramilho), Sergio Bortolozzo, indica que os preços só deixarão de
sofrer com o impacto das políticas monetárias internacionais em agosto, período
em que deve ocorrer a definição do tamanho dos grãos e, consequentemente, da
capacidade de produção do cereal norte-americano.
Já o diretor executivo da Aprosoja Brasil, Fabrício
Rosa, acredita que, “em 15 dias, [as cotações] devem se recuperar em patamares
anteriores na próxima safra com cotação parecida com a da safra anterior”.
Porém, nas projeções da GO Associados divulgadas
ontem em boletim, a cotação média da soja neste ano deve ficar 2% abaixo do
preço médio do ano passado, o preço médio do milho deve cair 4%; o do açúcar,
18%; e o do café, 22%. Apenas para o algodão a projeção é positiva, com perspectiva
de alta de 4%.
câmbio e importação
A valorização do dólar, resultado da nova política
monetária dos EUA, está compensando a queda dos preços agrícolas e garantindo a
margem dos produtores na comercialização, principalmente no caso do açúcar,
afirma o analista Julio Borges.
Desde o início de maio, quando o dólar estava
cotado a R$ 2,01, a moeda já acumula valorização de mais de 12%.
O movimento tem outro efeito, porém, que é o de
aumentar o preço dos insumos, já que o País depende de importação. Desde 2012,
o preço dos fertilizantes aumentou 20%, e em três anos já subiu 30%. Rosa, da
Aprosoja, afirma que está preocupado com o cenário dos próximos meses, já que a
tendência é que o dólar continue refletindo nos custos que o produtor terá pela
frente. Ele acredita que apenas o preço dos fertilizantes tenha margem para
subir entre 15% e 30%.
O diretor da Aprosoja ressalta que os agricultores
que fecharam contratos futuros de fertilizantes antes da subida das cotações
nos últimos dois meses conseguiram se preservar do efeito cambial. Quem perdeu
nesse movimento, assinala, foram as misturadoras, que importam a matéria-prima
e compõem o produto no País. “Mas o produtor que comprar os fertilizantes
depois pagará mais, porque a misturadora vai buscar compensar o que perdeu e
vai acrescentar o aumento de agora.”
Os custos maiores devem se unir ao gasto com frete,
que deve ficar mais caro com o início do escoamento da 2ª safra de milho, que
já começou a ser colhida.
Fonte: DCI
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