Complexo sistema de tributação e cenário de indefinição trouxe
volatilidade às ações da Vale nos últimos dias: mas o que realmente acontece no
caso da mineradora?
As ações da Vale registraram forte volatilidade nas últimas
sessões da bolsa, em meio à indefinição do julgamento do STF (Supremo Tribunal
Federal) sobre a tributação das empresas subsidiárias no exterior.
Com a decisão, o imbróglio, que se arrasta por anos, deve
demorar ainda mais tempo para ser decidido. Entretanto, em meio ao cenário
bastante complexo do sistema de tributação no Brasil e com diversas informações
desencontradas, o mercado pode ter interpretado de maneira diversas as decisões
do Supremo, apontam os analistas da Votorantim Corretora, Juliana Chu e Ricardo
Schweitzer.
Com isso, os analistas destacaram, em relatório publicado nesta
quinta-feira (11), quais foram as decisões tomadas pelo Tribunal e como elas
afetarão a Vale. Juliana e Schweitzer destacam que o julgamento da ADI (Ação
Direta de Inconstitucionalidade) da CNI, do Recurso Extraordinário da Coamo,
além do Recurso Extraordinário da Embraco; enquanto isso a decisão sobre a
tributação das subsidiárias do exterior da mineradora seguem pendentes.
1. O que foi decidido?
Com relação à ADI, o
Tribunal deliberou que a tributação se aplica a coligadas e
controladas localizadas em paraísos fiscais e não a coligadas localizadas em
países com regime normal de tributação.
Entretanto, rejeitou a retroatividade da regra. Assim, somente autuações relativas a 2002 em diante são válidas. Dado
que a subsidiária da Coamo se situa em paraíso fiscal, o Tribunal rejeitou sua
apelação.
Como isso afeta a Vale?
Os analistas ressaltam que, como a Vale têm antigas operações
nas Ilhas Cayman, elas são sujeitas à tributação. A estimativa mais recente,
destacam, é de que a obrigação some R$ 1,5 bilhão, considerando o valor apurado
entre 1996 e 2002. Entretanto, devido à decisão de não-retroatividade, o
montante deve ser recalculado expurgando-se os saldos de 1996 a 2001, levando a
perdas menores que o previsto inicialmente.
2. O que não foi decidido?
Os analistas destacam que, como o STF não atribuiu repercussão
geral ao caso da Embraco, a decisão não se aplica à Vale ou a qualquer outra
empresa que não à Embraco.
O entendimento do Tribunal foi de que, nessa situação, o caso de
cada companhia deve ser avaliado individualmente, levando em conta os tratados
internacionais relativos à bitributação. Com
esse propósito, os casos devem ser levados ao STJ, ressaltam Juliana e
Schweitzer.
Como
isso afeta a Vale?
Desta forma, postergou-se uma decisão final com relação às demais
atuações. Assim, como as decisões do STJ (Superior Tribunal de Justiça) podem
ser recorridas no STF, o imbróglio pode se arrastar por mais vários anos.
Enquanto isso, o Tribunal aceitou o pedido da Vale que a desobriga a realizar
qualquer depósito em juízo com relação a essas questões, até que seja tomada uma
decisão final.
Indefinições no cenário da
companhia
Desta forma, ressaltam os analistas, será um novo jogo, com o fato de que as pendências da Vale continuarem indefinidas na sua maior parte - e devem continuar assim por um bom tempo.
Desta forma, ressaltam os analistas, será um novo jogo, com o fato de que as pendências da Vale continuarem indefinidas na sua maior parte - e devem continuar assim por um bom tempo.
''A companhia enfrentará julgamentos completamente novos no STJ
e, por ora, não nos é possível avaliar quando e como serão os desdobramentos'',
destacam. Os analistas ressaltam ainda que boa parte das operações
internacionais da mineradora estão abrigadas em uma holding da Áustria - país
com o qual o Brasil tem acordos relativos à bitributação.
Os analistas seguem com recomendação outperform (desempenho
acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 53,80 para as ações VALE3, o
que configura um potencial de valorização de 57,59% frente ao fechamento desta
quinta-feira. Contudo, a visão de curto prazo para a companhia é
negativa.
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