Fonte: Jornal Dia a Dia
Em
construção, a unidade de US$ 2,5 bilhões da Petrobras deve gerar 9 mil empregos
no pico da obra, em novembro; inauguração está prevista para setembro do
próximo ano
No segundo semestre de 2014, provavelmente em setembro, quando
autoridades soarem a sirene dando por inaugurada a Unidade de Fertilizantes
Nitrogenados (UFN-III) da Petrobras, em Três Lagoas, o Brasil estará dando mais um passo para
reduzir a dependência de importação de um insumo essencial para a melhoria da
produtividade da agricultura nacional. E Três Lagoas estará fazendo jus ao
papel de cidade que apresenta o maior crescimento na região Centro-Oeste. Nos
últimos oito anos, o município recebeu R$ 15 bilhões em investimentos criando
em torno de 15 mil empregos diretos.
Em fevereiro passado, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Silva
Foster, esteve no município fazendo uma visita à unidade e garantiu que o
cronograma da obra, iniciada com a terraplanagem em abril de 2011, está
mantido, não sofrerá contratempos, e a inauguração acontecerá dentro do prazo.
Trabalhadores chegaram a paralisar a obra insatisfeitos com as condições dos
alojamentos e também por questões salariais. Atualmente, a obra está na fase de
conclusão das bases dos equipamentos e montagem de estruturas metálicas e
tubulações.
Três Lagoas é hoje o segundo PIB industrial de Mato Grosso do Sul (atrás
apenas da Capital). Com cerca de 3 mil empresas instaladas e 54 indústrias de
grande e médio porte, o município responde por 50% do volume de exportação
industrial de Mato Grosso do Sul (principais itens são a celulose e farelo de
soja). Recentemente a cidade recebeu o título de a Capital Mundial da Celulose
(de autoria do deputado Eduardo Rocha-PMDB). O titulo veio com a operação de
duas fábricas na cidade, a Fibria e a Eldorado Brasil (com produção para 2014 estimada
em 4,3 milhões de toneladas).
De acordo com a Petrobras, a construção da fábrica envolve investimentos
de US$ 2,5 bilhões. Quando entrar em operação, a unidade terá capacidade de
produzir 1,2 milhão de toneladas/ano de ureia granulada com a comercialização
de 70 mil toneladas/ano de amônia (maior parte, 691 mil toneladas, será usada
na produção da ureia). Com a nova unidade, a Petrobras vai dobrar a produção
nacional de ureia, contribuindo para redução das importações do produto de 66%
para 39% da demanda estimada do mercado nacional, de cerca de 4 milhões de
toneladas por ano.
Presidente
da Petrobras, Graças Foster, chegou a Três Lagoas acompanhada pelos diretores
de Gás e Energia, José Alcides Santoro (ao lado), e de Engenharia, José Antônio
de Figueiredo, além de outros assessores (Foto: Ricardo Mendes/Perfil News)
Disputa - Pelo menos dez Estados disputavam a
fábrica da Petrobras, que integra o PAC (Programa de Aceleração do
Crescimento). Em 2009 sobraram dois contendores e quem levou a melhor foi Mato
Grosso do Sul e justamente sobre o Estado vizinho Mato Grosso, que é o maior
produtor nacional de grãos.
Em 24 de novembro de 2009 o governo Federal anunciou oficialmente que a
unidade seria instalada em Três Lagoas. A escolha de Mato Grosso do sul seria
uma forma de compensar o Estado que no final de maio de 2009 havia perdido para
Mato Grosso a disputa para ser uma das sedes para a Copa do Mundo 2014. À
época, em almoço com empresários, o governador André Puccinelli (PMDB) anunciou
a decisão da Petrobras e festejou: “Vencemos Mato Grosso”.
Prefeita
Márcia Moura: "Os investimentos recebidos solidificam nossa economia
(Foto: Simão Nogueira)
Logística – Para a prefeita Márcia Moura (PMDB), a
posição estratégica e a logística oferecida com três modais (rodovia, hidrovia
e ferrovia) foi um dos principais fatores que atrairam grandes investimentos
nos últimos anos e que pesaram na escolha da Petrobras por Três Lagoas. “Nossa
cidade avança diariamente, prova disso é a construção da Petrobras
Fertilizantes UFN III, sendo a maior fábrica de fertilizantes nitrogenados da
América Latina. Os investimentos recebidos aqui solidificam nossa economia
gerando emprego e renda para a nossa gente”, analisa a prefeita.
Além de estar a 3 km do Gasoduto Brasil-Bolívia (o gás natural é um dos
principais insumos para os fertilizantes), a fábrica está a 1 km do modal
rodoviário, a 5 km do modal ferroviário, a 9 km do modal hidroviário e também
está próxima do mercado alvo de fertilizantes, no interior de São Paulo, Norte
do Paraná, Sul e Sudoeste de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
A UFN III está sendo construída no Distrito Industrial Córrego da Moeda
a 25 km da cidade, às margens da MS-395, sentido Três Lagoas/Brasilândia (entre
os Córregos Moeda e Rio Verde). O responsável pela obra é o Consórcio UFN3,
formado pelas empresas Galvão Engenharia, GDK e a Sinopec do Brasil, estatal
chinesa de petróleo e química, que tem sido parceira da Petrobras em vários
empreendimentos.
Vista
aérea onde está sendo construída a unidade numa área de 425 hectares (Foto:
Ricardo Ojeda/Perfil News)
Incentivos – O governo do Estado e o município
deram todas as condições para que a fábrica se instalasse. A área, por exemplo,
de 4.251.975,680 metros quadrados (425 hectares) foi doada de acordo com
convênio assinado no qual o Estado bancou R$ 5 milhões e o município R$ 1
milhão para a comprada área.
Em janeiro, o governador André Puccinelli assinou na sede da Petrobras,
no Rio de Janeiro, termo de acordo concedendo incentivos fiscais e tributários
com isenção de 90% do ICMS. A prefeitura também concedeu isenção de ISS na
construção da unidade e de IPTU pelo prazo de 25 anos.
Como forma de estímulo a investimentos que ajudam a reduzir as
desigualdades regionais, a unidade também tem incentivos fiscais do Ministério
de Minas e Energia por meio do Repenec (Regime Especial de Incentivos para o
Desenvolvimento de Infraestrutura da Indústria Petrolífera nas regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste) por meio da suspensão das contribuições para
PIS/PASEP, equipamentos e materiais de construção.
Graças
Foster visitou no município a Missão Salesiana onde está sendo realizado o
programa Gerando Futuro (Foto: Ricardo Mendes/Perfil News)
Empregos – O investimento mexe com a
economia e traz um retorno imediato. Só nesta fase atual da construção,
estão sendo gerados 4 mil empregos com perspectiva de que no pico (previsto
para novembro) da obra, o número chegue a 9 mil trabalhadores. Quando estiver
em operação, a UFN III vai gerar 510 empregos diretos (mais 1.500 indiretos)
entre funções administrativas, técnicas e operacionais. “Estes investimentos
acabaram com o desemprego na região e a cidade já vive o chamado pleno emprego,
onde faltam trabalhadores, principalmente com qualificação”, diz a prefeita
Márcia Moura.
Para dar conta da futura demanda por profissionais, em 2011 a Petrobras
lançou a primeira turma do programa Gerando Futuro em parceria com a Missão
Salesiana beneficiando, inicialmente,ok 480 jovens de 16 a 18 anos
oriundos da rede pública. Eles saem desse programa e disputam um lugar nos
vários cursos do Promimp (Programa de Mobilização da Indústria Nacional de
Petróleo e Gás Natural), que prepara a mão de obra qualificada com o apoio de entidades
como o SENAI, SENAC, e SEBRAE, que ministram diversos cursos técnicos.
Uma demonstração de que a cidade continua em franco crescimento foi o
último levantamento do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do
Ministério do Trabalho e Emprego referente ao mês de março. O município foi o
que mais criou empregos no Estado com 790 contratações, das 3.638 vagas criadas
com carteira assinada. Para atender a demanda, a cidade, que atraiu nos últimos
sete anos 40 mil novos moradores, melhora a infraestrutura.
A pavimentação asfáltica, por exemplo, avançou de 14% para 62% no
município. Em 2014 deve começar a funcionar um curso de Medicina da UFMS
(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Outra obra importante é
o Hospital Municipal que deverá estar concluído até o final
do próximo ano.
No setor de habitação, a prefeitura, que já havia entregado 1.003
moradias à época que a atual vice-governadora Simone Tebet era prefeita,
prepara-se para inaugurar mais 1.224 casas construídas pelo programa Minha
Casa, Minha Vida e deverá anunciar a construção de mais 1.432 unidades.
Produtor
Carlos Brauner (E), presidente da Aprosoja, Almir Dalpasquale (C), e Sandro,
filho de Brauner: agricultura comemora chegada da UFN III(Foto: Rodrigo
Pazinato)
Reflexos - Para a agricultura de Mato Grosso do
Sul, os reflexos da produção de fertilizante nitrogenado na unidade de Três
Lagoas serão sentidos mais precisamente em 2015, na safra de inverno do milho.
“O milho consome muito nitrogênio que é importante para o resultado”, diz o
presidente da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do
Sul), Almir Dalpasquale, que comemora a chegada da fábrica da Petrobras. A
Aprosoja é a entidade que reúne os produtores de soja, milho, sorgo, aveia,
trigo entre outras culturas e trabalha para o desenvolvimento do setor.
Segundo os últimos dados, a área utilizada para o plantio do milho
safrinha cresceu 20% este ano passando para 1,4 milhão de hectares e a projeção
é que sejam colhidas a partir de junho mais de 6 milhões de toneladas aqui no
Estado. Na opinião de Dalpasquale, além de agregar muita mão de obra, a
produção do fertilizante em nosso Estado facilitará a compra do fertilizante na
hora em que for necessário, e também o tornará mais em conta baixando os custos
de produção.
Atualmente, além de importar boa parte do fertilizante, os produtores
são obrigados a comprar em outros Estados, como Goiás,
São Paulo, Paraná e Espírito Santo. “São Paulo, que também é grande produtor de
cana, irá se beneficiar, já que a cultura também necessita de nitrogênio”, diz
Dalpasquale.
Para o assessor técnico da Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária
de Mato Grosso do Sul) e diretor da Aprosoja, Lucas Galvan, a instalação da
unidade da Petrobras em Três Lagoas foi uma grande conquista para o Estado
e os produtores. “O Estado ganha na questão financeira, com a arrecadação de
ICMS. E os produtores terão acesso ao fertilizante a um preço mais acessível e
também com a possibilidade de receber o produto de forma mais rápida, já que
será produzido aqui”. Avaliou.
“Para nós, a proximidade da fábrica vai facilitar a aquisição do produto
e também deverá baratear o custo de produção”, avalia o produtor rural Carlos
Antônio Brauner, que possui três fazendas na região de Bandeirantes. O
fertilizante aplicado em suas propriedades, Estância Priscila, Estância
Leopoldina e Estância Bom Jesus, é importado e Brauner conta que para este ano
comprou cerca de 1.300 toneladas a um custo de R$ 1,560 milhão (base de R$ 1,2
mil por tonelada). Para o milho safrinha, ele destinou uma área de 1.800
hectares de onde deverá colher cerca de 130 mil sacas.
Placa
indica entrada do canteiro de obras da UFN III (Foto: Ricardo Ojeda/Perfil
News)
Produção triplicada – A fábrica de fertilizantes de Três
Lagoas será a terceira unidade da Petrobras que já possui complexos na Bahia (já
em operação) e Sergipe. Com a entrada em operação das unidades de Três Lagoas e
Laranjeiras, em Sergipe, a Petrobras pretende mais que triplicar a produção de
fertilizantes nitrogenados.
Conforme o Plano de Negócios e Gestão para o período 2012/2016, lançado
em agosto do ano passado, a capacidade que atualmente é de 1,1 milhão de
toneladas/ano deverá passar para mais de 3 milhões de toneladas com as novas
unidades. Na análise do diretor de Gás e Energia da Petrobras, José Alcides
Santoro, estes números indicam que o País estará dando conta de aproximadamente
70% do consumo nacional previsto para o final de 2016.
De acordo com a Petrobras, a unidade de Laranjeiras, que deve entrar em
operação no primeiro semestre de 2013, produzirá produzidas 303 mil toneladas
por ano de sulfato de amônia. A meta é chegar ao final de 2016 com uma produção
de 803 mil toneladas de amônia anualmente, contra as atuais 213 mil toneladas,
fazendo com que o Brasil seja autossuficiente na produção desse fertilizante.
Para os próximos cinco anos, o Plano de Negócios e Gestão da Petrobras
prevê investimentos de US$ 236,5 bilhões. Desse montante, US$ 13,5 bilhões (o
equivalente a 5,8%) serão direcionados à área de gás e energia, dos quais 42%
serão destinados para o setor de produção de fertilizantes nitrogenados
Dados nacionais - De acordo com a Anda (Associação Nacional
para a Difusão de Adubos), as importações de fertilizantes cresceram 18% neste
primeiro trimestre entrando nos portos 3,582 milhões de toneladas. No mesmo
período de 2012 as importações somaram 3,036 milhões de toneladas.
No primeiro trimestre deste ano, a produção nacional cresceu 2,5%
comparado com o mesmo período do ano passado. Foi de 2,255 milhões de toneladas
contra 2,200 milhões de toneladas. Enquanto a produção nacional de
fertilizantes nitrogenados caiu em 17,1% às importações cresceram no período
14,3%.
As entregas de fertilizantes ao consumidor final encerraram o primeiro
trimestre de 2013 com 5,412 milhões de toneladas, indicando aumento de 2% em
relação ao mesmo trimestre de 2012, quando foram entregues 5,308 milhões de
toneladas. O total de nutrientes (NPK) entregues alcançou no trimestre
analisado 2,303 milhões de toneladas, ou seja, evolução de 2,6% em relação ao
mesmo período de 2012 quando foram entregues 2,245 milhões de toneladas.
Em nutrientes, as entregas de fertilizantes nitrogenados (N)
apresentaram evolução de 3,4%, passando de 849 mil de toneladas em 2012 para
878 mil toneladas em 2013, em função do aumento de demanda para a cultura do
milho safrinha e trigo na região sul.
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