Cada demissão na indústria são sete vagas a menos no comércio

Sem carteira. Com a demanda fraca, Rilma Ferreira foi demitida da loja. “Está difícil, por isso estou fazendo bicos de garçonete”

Fonte: O Tempo

Itabira e Nova Lima. Tiago dos Santos Teixeira, 33, era operador de equipamentos da Vale, em Itabira, região Central de Minas Gerais. Ele foi demitido em maio deste ano e está recebendo seguro-desemprego. Mas, sem os benefícios que vinham junto com o salário, a renda caiu pela metade, e, agora, a família está pensando muito antes de fazer qualquer compra. Ele não conhece Rilma Ferreira, 43, que era vendedora em uma loja de roupas, mas a demissão de Tiago afetou diretamente a vida da comerciária, que também perdeu o emprego, num efeito dominó.

De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), para cada trabalhador que a indústria extrativa teve que demitir em Minas Gerais, sete foram mandados embora nos setores de comércio e serviços. No Estado, enquanto o saldo entre demissões e contratações ficou negativo em 2.917 vagas no setor extrativo, comércio e serviços tiveram uma baixa de 20.743 postos de trabalho com carteira assinada. “Primeiro a crise afeta a indústria, que reduz a produção e demite. Depois é que ela chega ao varejo e aos serviços. E é isso que está acontecendo no Brasil, agora é que esses setores estão cortando mais pessoal”, avalia o economista Reginaldo Nogueira, coordenador do curso de relações internacionais do Ibmec.

Junto com Tiago, a Vale já dispensou neste ano outros 281 trabalhadores, segundo balanço de homologações do Sindicato Metabase de Itabira e região. De acordo com o Caged, o setor extrativo como um todo fechou 582 vagas formais de janeiro a junho. “Sofremos um impacto muito forte. Para se ter uma ideia, a rotatividade girava em torno de 1,5% do quadro, o que dava cerca de 65 demissões no ano”, compara o presidente do sindicato, Paulo Soares.
De acordo com o presidente da Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (Amig), José de Freitas Cordeiro, o Zelinho, todas as cidades mineradoras estão sofrendo os impactos em cadeia. “Cai a produção, o setor de mineração demite, circula menos dinheiro nas cidades, as pessoas param de comprar, e o comércio também demite’, afirma Cordeiro.

Em Itabira, o dono do restaurante Tempero Mineiro, José Donato, já teve que demitir duas pessoas em um mês e meio. “A Vale tinha projetos que estão chegando ao fim. Com isso, milhares de pessoas que vieram para Itabira trabalhar, não só na empresa, mas nas empreiteiras, foram dispensadas e estão indo embora. O comércio vende menos. Aqui o movimento caiu 40% em relação a 2014. Está pior do que a crise de 2009, porque naquela época o preço do minério estava maior e havia perspectiva de melhorar”, observa.

Sem emprego, os cortes de gastos se espalham. “Eu não esperava ser demitido. Foi uma surpresa, mas tive que me adaptar. Cortei um ponto de TV a cabo, cortei telefone e estou economizando”, conta Tiago.

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