Empresas privadas do setor de fertilizantes querem proteção governamental; A quem o Estado deve proteger?!


Fonte: Carta Capital

As empresas privadas do setor de fertilizantes não investem para acabar com a dependência externa e ainda pedem proteção ao governo

Folhas e telas cotidianas informam-nos mais um capítulo da história desta Federação de Corporações a que deram o bonito nome de Brasil.
A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) e o Sindicato Nacional de Matérias-Primas para Fertilizantes (Simprifert) levaram ao governo pleito para taxar as importações desse insumo essencial para a agricultura.
Argumentam com margens apertadas que impossibilitam seus associados, os fabricantes locais de fertilizantes básicos e intermediários, investirem em aumento de capacidade.
Estranho esse pedido de proteção. Há mais de vinte anos que praticamente nada se investe na produção de matérias-primas para o setor, o que inclui períodos de importação sobretaxada.
Querem mais? Justamente por isso a agricultura brasileira importa 70% da sua necessidade de fertilizantes.
Mais ainda? Dos 12,5 bilhões de dólares que o setor anunciou que iria investir até 2015, após puxão de orelhas do governo federal, preocupado com nossa dependência, 90% seriam, e se o forem continuarão sendo, realizados por Petrobras e Vale. Uma estatal e outra perto disso.
Para que os fertilizantes químicos e minerais cheguem às lavouras e forneçam a elas seus principais nutrientes – nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) – eles percorrem etapas que obedecem a ordens decrescentes de complexidade industrial e níveis de investimento.
No grau mais elevado, as matérias-primas básicas, extraídas de jazidas de rochas fosfáticas (P), depósitos de potassa (K), e complexos industriais capazes de sintetizar hidrogênio e nitrogênio (N).
A partir delas, fábricas menos complexas, mas ainda de alto investimento, daí o fato de a maior parte pertencer às Petrobras e Vale, produzem os fertilizantes intermediários que, misturados em unidades regionais de menor complexidade e intensidade de capital, constituirão as formulações NPK adequadas às necessidades de cada solo e cultura.
Não foram muitos os anos em que os agricultores brasileiros tiveram algum poder de barganha diante dessa cadeia produtiva.
Durou enquanto a produção local foi abundante e o nacional-desenvolvimentismo, inaugurado com Getúlio Vargas e continuado por Juscelino e Jango, foi intensificado por mãos militares, nas décadas em que a política econômica priorizou substituir importações.
Jazidas de fosfato, minerodutos, plantas de fosfatados, em polos como Uberaba (MG), Araxá (MG), Catalão (GO).
Incipiente e modesta, a produção nacional de potássio, em Taquari-Vassouras (SE), servia pelo menos para ser comentada nos festivos coquetéis de canadenses, alemães, russos e norte-americanos.
De Camaçari (BA) até Araucária (PR), passando por Cubatão (SP), produzia-se nitrogênio.
Alguns nomes na lembrança: Valefértil, Ultrafértil, Goiasfértil, Fosfértil, Arafértil, Petromisa, Nitrofértil, Petrofértil.
A produção estatal, além de ampliar a oferta e aumentar a concorrência com o exterior, ao primeiro grito da agricultura, queixando-se de preços altos, absorvia parte desses custos em suas margens. Algo assim como a Petrobras vem fazendo com a gasolina.
O momento era propício para unir-se a fome da suposta ineficiência das estatais e a vontade de comer do neoliberalismo que aportava em nossas praias.
Privatize-se tudo!
E assim foi feito. E já desfeito. Os elos mais integrados da cadeia de produção já voltaram às mãos da Petrobras e da Vale, a quem caberá investir e diminuir nossa dependência.
Se 90% dos investimentos programados serão feitos por Petrobras e Vale; se os exportadores mundiais já enfrentam barreiras naturais de custos, representadas por fretes marítimos, portos ineficientes e altas taxas operacionais; se a produção nacional atende apenas 30% da demanda; qual o motivo para taxar as importações e aumentar os custos do agricultor em um fator que representa, em média, 25% do que ele gasta nas lavouras?
Estranho, não?

É como se os diretores de Abiquim e Simprifert jantassem no Fasano e mandassem a conta para o José Agripino, sojicultor de Lucas do Rio Verde (MT), pagar.

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