Vale deve separar área de fertilizantes e atrair "parceiro estratégico"

Uma das transações mais esperadas pelo mercado dentro do portfólio da Vale poderá, finalmente, ser fechada este ano. No mercado, todos os sinais indicam que, no segundo semestre de 2016, a divisão de fertilizantes deverá ser separada do restante da empresa e ter uma participação vendida a um "parceiro estratégico" – a norueguesa Yara, uma das maiores do mundo no segmento, é apontada como a principal candidata. O Valor apurou que a mineradora deverá se desfazer de uma fatia minoritária, na faixa de 40%, e manter, pelo menos em um primeiro momento, o controle do negócio.
Especialistas estimam que o valor da divisão de fertilizantes da Vale poderá variar de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões. Se o "teto" prevalecer e a participação vendida for mesmo de 40%, a Vale poderá embolsar US$ 1,2 bilhão. Procurada, a Vale preferiu não comentar. Em nota, a Yara, que já tem posição de destaque no mercado brasileiro de fertilizantes, afirmou "que está aberta a oportunidades que possam surgir no mercado", mas que, por ora, não há nada concreto.
Fontes do segmento confirmam que o plano da mineradora é criar uma nova empresa reunindo seu ativos e projetos de fertilizantes. Essa nova sociedade reuniria os ativos de potássio e rocha fosfática que hoje estão sob o guarda-chuva da Vale Fertilizantes, uma divisão dentro da companhia. O atual diretor-executivo de carvão e fertilizantes da Vale, Roger Downey, é apontado como o possível presidente dessa nova companhia.
Não é de hoje que o objetivo da Vale nos fertilizantes é encontrar um sócio para construir um negócio maior e mais rentável. Embora a administração da Vale sempre enfatize que os adubos estão dentro das "prioridades" da empresa, analistas sempre consideraram seu desempenho frustrante. Havia uma expectativa de que se a Vale investisse mais no segmento, a crônica dependência dos agricultores de insumos importados, que supera 70% da demanda, pudesse diminuir. Mais isso não aconteceu.
Em 2015, a Vale Fertilizantes até registrou melhorias de vendas e na frente operacional, com reduções de custos, e esses resultados tiraram um pouco da pressão para que a mineradora vendesse logo uma participação na divisão, uma estratégia discutida há pelo menos três anos. As difíceis condições de mercado no ano passado, marcado por uma demanda doméstica mais fraca, também passaram a ser encaradas como um desestímulo para um eventual novo sócio.
Mesmo assim, segundo fontes do mercado, no processo de discussões surgiram vários interessados na divisão de fertilizantes da mineradora brasileira. Embora a Yara sempre tenha sido apontada como uma forte candidata, outros players, entre os quais grupos árabes, também mostraram interesse no negócio.
Nos resultados da Vale em 2015, os fertilizantes foram um dos segmentos com bom desempenho. A divisão registrou uma receita operacional líquida de US$ 2,2 bilhões, o que correspondeu a 8,7% da receita total da mineradora no exercício. Em 2014, a participação havia sido de 6,4%.
O segmento de fertilizantes da Vale registrou lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de US$ 567 milhões no ano passado, mais que o dobro que em 2014 (US$ 278 milhões). O aumento no Ebitda foi resultado do impacto positivo do câmbio, de iniciativas de cortes de custos e de reduções de despesas, além de ganhos nos preços realizados como resultado direto de iniciativas comerciais.
Mas a transação envolvendo os fertilizantes ganhou importância para a Vale por conta das atuais dificuldades da empresa, que tem uma alta alavancagem financeira e a meta de reduzir em US$ 10 bilhões sua dívida líquida em um período de 18 meses. Entre analistas, há quem considere a meta de redução da alavancagem factível de ser cumprida. Mas há também quem considere a tarefa "difícil". Nesse cenário, e com os preços das commodities minerais e metálicas deprimidos, o fechamento de uma parceria nos fertilizantes é estratégica para a Vale. A companhia colocaria dinheiro em caixa e passaria a contar com um sócio focado no segmento para engordar o negócio. (Colaborou Mariana Caetano)
Por Francisco Góes | Do Rio
Fonte : Valor

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