Mais capitalizado, produtor do Brasil já compra fertilizante para 2021/22



O alto nível de capitalização dos produtores de soja no Brasil, impulsionado por exportações recordes e pelo câmbio, já leva à aquisição de fertilizantes para a safra 2021/22, que será plantada no fim do ano que vem, em um raro movimento de antecipação também para fugir de eventuais incertezas relativas ao coronavírus.

"As relações de troca são favoráveis e, neste cenário, já temos notado os primeiros movimentos de compra de fertilizantes para safra 21/22 no Centro-Oeste", disse à Reuters o diretor de Distribuição da Mosaic Fertilizantes, Eduardo Monteiro.
O executivo da Mosaic, empresa que responde por cerca de 25% do mercado de fertilizantes do Brasil, evitou falar quanto acredita já ter sido negociado de adubo para a safra de 2021/22.
Este tipo de estratégia ocorreu "raríssimas" vezes no Brasil, quando o agricultor encontrou oportunidade para fazer um hedge cambial de prazo mais extenso, afirmou o diretor-executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Eduardo Daher, ressaltando que geralmente essa antecipação de compras envolve mais grandes sojicultores.
O primeiro semestre de 2020 terminou com resultados muito positivos aos produtores brasileiros de soja, segundo levantamento realizado pela consultoria Datagro.
Considerando o comportamento de preço no período em quatro principais praças de negociação do país, os valores em reais ficaram de 27% a 29% superiores em relação ao mesmo período do ano anterior, momento em que os resultados já haviam sido representativos.
Segundo a análise, a maior diferença no semestre foi registrada em Rondonópolis (MT), com média de 87,23 reais por saca de 60 kg ante 67,68 reais no mesmo intervalo de 2019, um avanço de 29%.
Paralelamente, a soja na Bolsa de Chicago (CBOT) teve média de 8,71 dólares bushel no período, queda de 2% sobre o semestre anterior. O resultado positivo foi alcançado no Brasil porque, enquanto isso, o dólar subiu 28% ante o real, disse a Datagro.
Neste contexto, o diretor da Abag pontuou que o planejamento financeiro para a aquisição de insumos utilizados na safra também mudou.
"Atualmente, sobretudo na agricultura mais profissional, 50% das compras de insumos são feitas pelo produtor com recurso próprio. Antes eram 30% com recurso próprio, 30% financiamento e 30% por "barter" (troca de insumos por grão)", explicou Daher.
Não bastassem os altos preços praticados na soja, a firme demanda da China ajudou a elevar as exportações brasileiras.
Somente no primeiro semestre, os embarques da oleaginosa do Brasil aumentaram 38%, para 60,34 milhões de toneladas, conforme dados do Ministério da Agricultura. Até o fim de 2020, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) espera que este volume avance para cerca de 80 milhões de toneladas, o que seria o segundo maior da história, perdendo somente para 2018.
MAIS CEDO
"Os fertilizantes para a safra 2020/21 também começaram a ser comercializados muito cedo, sendo que a primeira grande onda ocorreu em Outubro/19 em Mato Grosso, seguido por Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás e Bahia", disse o diretor da Mosaic, uma das maiores companhias globais.
Na temporada anterior, segundo Monteiro, a comercialização de adubos para a soja começou apenas entre março e abril do ano da safra (2019), ou seja, as vendas de fertilizantes para soja 2020/21 foram antecipadas em cinco meses.
"Essa antecipação de compras ocorreu devido à ótima relação de troca entre grão e fertilizantes", afirmou o executivo.
Ele ainda disse que as vendas de adubos para a soja 2020/21 no Brasil atingiram atualmente 85% do total esperado, versus 75% do mesmo período do ano anterior. Para a segunda safra de milho 2020/21, 35% já está comercializado, contra 23% do ano passado.
Além da relação de troca favorável ao produtor, a pandemia do novo coronavírus no Brasil contribuiu para adiantar a corrida por insumos no campo.
"O agricultor viu os riscos da pandemia (em termos de fornecimento) e preferiu comprar antecipadamente, receber o fertilizantes e já ficar com ele próximo da sua lavoura", comentou o vice-presidente de Vendas e Marketing da Yara Brasil, Cleiton Vargas.
PROJEÇÃO
Para 2020, o consenso entre os executivos ouvidos pela Reuters é de crescimento de 2% no mercado de fertilizantes do Brasil em relação ao ano anterior, para cerca de 37 milhões de toneladas.
"Para o segundo semestre, as entregas devem continuar fortes para a safra de verão. O ponto que temos que acompanhar são as entregas para a safrinha de milho, onde, a depender da evolução do plantio de soja, poderá ser antecipada para o quarto trimestre de 2020 ou postergada para o primeiro semestre de 2021", pontuou o diretor da Mosaic.
Fonte: Enfoque

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