RODRIGO LEANDRO DE MOURA - O ESTADO DE S.PAULO
Os resultados de abril da PNAD Contínua, divulgados pelo IBGE, mostram a continuidade no aumento do desemprego. No entanto, mais do que esse aumento, o que chama a atenção é que os rendimentos reais do trabalho continuam ladeira abaixo. Graças à 'brilhante' política de estímulo ao consumo do governo, a inflação tem crescido de forma contínua e corroído cada vez mais o poder de compra dos salários dos trabalhadores. A iniciativa foi posta em prática em um período no qual o mercado de trabalho estava no (próximo do) pleno emprego e havia um controle artificial dos preços da gasolina e energia. Esse foi um fator importante para a queda real da renda do trabalho no trimestre encerrado em abril de 2015 em relação ao mesmo período de 2014.
Aliado a esse fator, o achatamento dos salários decorre também da desaceleração da economia e o aumento do desemprego - além da própria perspectiva da continuidade da deterioração do emprego. Para se ter ideia, estimamos quanto a renda real do trabalho deve diminuir para cada aumento de 1 ponto porcentual da taxa de desemprego. Considerando que o desemprego pode ter efeito defasado de até 3 meses sobre os rendimentos, um aumento de 1 ponto porcentual no desemprego hoje reduz a renda real do trabalho em até 1,4% após 3 meses. Como nossa previsão da taxa média de desemprego para 2015 é de quase 8% - o que representa um aumento de 1,2 ponto porcentual em relação a 2014 -, a renda real do trabalho deve se contrair até 1,7% até o início de 2016, somente por causa do aumento do desemprego. Aliado à desaceleração da economia, a tendência é que a compressão dos salários seja ainda maior ao longo desse ano. Assim, infelizmente, os brasileiros vão continuar colhendo os frutos amargos de uma política desenvolvimentista fracassada que demorou a ser abandonada.
*Rodrigo Leandro de Moura é professor e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV)
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