Impactos ambientais: produção, aplicação dos fertilizantes, defensivos agrícolas e a ação sindical


Defensivos agrícolas são vilões ou mocinhos na agricultura? O assunto foi tema de exposição no segundo dia do V Encontro Nacional dos Trabalhadores do Setor de Fertilizantes e Defensivos Agrícolas no dia 24 de junho em Uberaba (MG). O secretário nacional de Meio Ambiente da Força Sindical e presidente do Sindicato dos Químicos de Santos, Herbert Passos Filho explicou que o grande dilema atual é produzir alimentos ou salvar o mundo. É nesta brecha onde entram os agrotóxicos.

“Nem tudo que usamos no hemisfério Sul é utilizado na região Norte do planeta. Ali, por causa do frio intenso o solo congela matando as ervas daninhas. No Sul isto não ocorre. Os defensivos agrícolas ajudam no aumento da produção e desenvolvimento sustentável”, disse.
Segundo ele, a Lei 7.802/1989 dita as regras para utilização dos agrotóxicos. Por outro lado, a OMS (Organização Mundial da Saúde) classifica os seus efeitos tóxicos em três classes: A) agudo, B) subagudo e C) crônico. “Na primeira os sintomas surgem rápido, na segunda aparecem devagar (dor de cabeça, dor de estômago e sonolência) e na crônica demora certo tempo e pode levar a paralisias e  doenças graves como o Câncer”, afirmou.

Passos ressaltou que os agrotóxicos de longa persistência foram banidos, pois eram compostos de alta toxicidade e permanecia no organismo durante vários anos. Atualmente a região sudeste do Brasil é a que mais consome este tipo de produto. “A partir de 2008, o nosso país entrou para o clube de maior consumidor  de defensivo agrícola no mundo, com seis empresas dominando o setor”, enfatizou.

Somente em 2013 foram consumidas 813 toneladas no País, apresentando crescimento de 162,32% de aumento quando comparado com o ano 2000, além de faturamento de US$ 9,71 bilhões (cerca de R$ 28 bilhões). “Eles servem para combater pragas, doenças e ervas daninhas. Estão entre os principais instrumentos do atual modelo da agricultura brasileira, centrado em ganhos de produtividade. O uso intensivo provoca danos à saúde da população, tanto dos consumidores dos alimentos quanto dos trabalhadores que os manipulam diretamente, além de contaminar alimentos e degradar o meio ambiente”, alertou.

Por ser produto tóxico, explica Passos, na Europa só é possível comprar Fosforado, por exemplo, após conclusão de curso de 60 horas, e receber carteirinha autorizando a compra do agrotóxico. “No Brasil essa prática ainda não é adotada, apesar da existência desse curso. Só com autorização de engenheiro agrônomo a transação comercial é feita”, frisou.

Mesmo com o domínio desse mercado pelas multinacionais, existem tecnologias alternativas para produção de alimentos sem uso de agrotóxicos. “O grande problema é que cada vez mais registramos a chegada de novas pragas agrícolas, provocando sérios impactos ambientais e afetando a saúde da população”, ressaltou.

Atualmente, destaca Passos, 64% dos alimentos são contaminados por agrotóxicos. De 2007 a 2014 o Brasil registrou 34.147 casos notificados envolvendo esse tipo de produto químico. Por outro lado, no período 2000 a 2012 houve 288% de aumento no uso de agrotóxicos.

O secretário nacional de Meio Ambiente da CUT, Jasseir Alves Fernandes, destacou a importância de avaliar o assunto e encontrar mecanismos que possam impedir a proliferação de pragas na agricultura doméstica. “Na monocultura não ocorre desequilíbrio. O mais curioso nesta história é que as multinacionais desse segmento produzem o veneno de um lado e o remédio do outro”, comparou.

Na avaliação dele, o movimento sindical precisa descobrir meios de como usar corretamente os agrotóxicos sem provocar danos à natureza. “Outro dado interessante é que 70% dos defensivos agrícolas são aplicados na produção de commodities, deixando a segurança alimentar em segundo plano”, observou. Ele frisou o caso dos alimentos transgênicos, que não visa resolver os problemas da agricultura, mas aumentando o consumo de agrotóxico, para elevar os lucros das multinacionais.

“Como agricultor, não consigo compreender a razão de uma substância fabricada para resolver problemas relacionados à preservação de alimentos provocar contaminação. O dilema é como o movimento sindical pode criar alternativas de gerar renda neste seguimento de agrotóxico. Aliás, se defensivos agrícolas resolvessem problemas da fome no mundo, não teríamos mais ninguém faminto. A regra é obter lucro, usando a fome como motivo para manter a produção”, descreveu.

Jasseir deixou bem claro que na venda do agrotóxico, o lucro não é para o patrão ou banco, mas para as multinacionais responsáveis pela fabricação. “Devemos criar alternativas, que provoquem menos impactos ambientais, mantendo geração de renda com qualidade de vida, pois esse atual modelo visa apenas prejudicar a saúde da população e do trabalhador”, finalizou

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