O anúncio da aquisição do
controle da rede de farmácias Onofre pela americana CVS é o mais importante
movimento de entrada de capital estrangeiro no setor de drogarias no país. E a mais
cara operação já feita nesse segmento. Maior grupo de varejo e serviços de
farmácias dos Estados Unidos, a CVS pagou R$ 670 milhões por 80% da rede
brasileira, avaliada em R$ 830 milhões, apurou o Valor. A família Arede,
fundadora da empresa, ficou com os outros 20%. Pagaram à vista, em dinheiro, e
assumiram também as dívidas da companhia.
O valor do negócio equivale
a 26 vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização)
alcançado pela empresa em 2012 - a taxa máxima registrada nesse mercado era 15
vezes o Ebitda (ver análise abaixo). Oficialmente, as empresas não informaram
os valores da transação. Liderada pelos executivos Ricardo e Marcos Arede, a
Onofre acertou com a CVS a permanência dos cofundadores no comando. Não foi
informado o período para isso. Os diretores são netos de Arlindo Arede, criador
em 1934 da "Pharmacia Onofre", que em 1957 se transformou em Drogaria
Onofre.
A rede varejista é a oitava
maior do país, com 44 lojas e receita de R$ 452 milhões no ano passado, apurou
o Valor. A família vendeu o controle porque entendeu que precisava acelerar o
crescimento para não perder escala e acabar encolhendo, num mercado em forte consolidação,
segundo fonte próxima à família. Desde 2010, esse setor enfrenta um processo de
concentração em pleno andamento - a Raia se uniu à Drogasil e a Drogaria São
Paulo se juntou com a Pacheco, ambos os negócios em 2010. A BR Pharma comprou
uma série de empresas nos últimos dois anos.
A confirmação da operação
aconteceu ontem, pelo comando da CVS, em teleconferência de resultados do
quarto trimestre - quando a companhia anunciou alta de 15% na receita líquida de
US$ 124 bilhões em 2012, e aumento de 14,2% no lucro operacional, que atingiu
US$ 7,2 bilhões no ano passado. "O Brasil é um ótimo mercado cujo crescimento
na área de produtos de cuidados para saúde e farmácias deve alcançar dois
dígitos na próxima década", disse aos analistas Larry Merlo, presidente
mundial da CVS.
De acordo com Merlo, a elevada
pulverização desse setor no país pode ser uma boa oportunidade para crescer, já
que há dezenas de médias e pequenas companhias espalhadas pelo país. Segundo
analistas, o contínuo aumento da demanda desse segmento, ancorado na alta da
renda e estabilidade nas taxas de desemprego também compõe esse cenário de interesse
no mercado local. "A única lógica que explica uma aquisição tão cara é a
questão estratégica. Mercados como o Brasil viraram prioritários", disse o
economista Nelson Barrizzelli. É o mesmo motivo que leva outras cadeias
estrangeiras a pensar em entrar no país. Walgreens e Duane Reade já teriam
estudado o mercado local, de acordo com fontes de bancos.
No Brasil, a CVS terá que
operar num mercado com taxas de retorno menores que o registrado pelo grupo,
num setor com outra legislação e quadro concorrencial diferente. Nos EUA, a margem
bruta da CVS está em 31%. Na Brasil, o índice não passa de 25% entre as redes
de capital aberto. Até então, a primeira e única negociação de empresa estrangeira
foi a entrada da mexicana Casa Saba, que já se desfez da redes Drogasmil
adquiridas em 2008.
Em 2012, as vendas das
principais varejistas do setor mantiveram sua tendência de crescimento em 2012,
de acordo com a Associação Brasileira de redes de Farmácias e Drogarias
(Abrafarma). A receita das 31 empresas ligadas à entidade atingiu R$ 25
bilhões, alta 16% em relação ao mesmo período de 2011. Do valor total, os medicamentos
registraram incremento de 15,27%, somando R$ 17,26 bilhões, dos quais R$ 3,1 bilhões
foram de remédios genéricos. Os não medicamentos totalizaram R$ 7,79 bilhões,
alta de 17,67% em relação a 2011.
Outro destaque foi o aumento
de vendas do programa "Aqui tem Farmácia Popular". As vendas atingiram
R$ 468 milhões, aumento de 49,2% sobre o ano anterior.
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