Moradores de Macacos, em Nova Lima, denunciam ausência do poder público e descaso da Vale



Após uma sirene anunciar que a barragem B3/B4 da Mina Mar Azul, da Vale, alcançou o nível máximo de risco, os moradores do distrito de Macacos em Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, começaram a viver um terror, que já dura mais de sete meses. A "lama invisível" é reforçada pelo trauma da tragédia que matou centenas de pessoas em Brumadinho, na mesma região. A população sofre, ainda, com a queda da economia, já que obras e o medo afastaram os turistas.

O promotor Luís Gustavo Bortoncello afirma que é nítido o descompasso entre o governo municipal, a mineradora e os moradores. Um dos exemplos dados pelo promotor é a Escola Municipal Rubem Costa Lima, a única do distrito e que atende quase duzentas crianças, com idades entre 4 e 11 anos.

O prédio original fica a 50 metros da mancha de inundação da lama, em caso de rompimento, de acordo com as previsões da Vale. Por isso, os pais dos alunos bateram o pé e, após muita resistência, foi construída uma estrutura provisória, em local mais seguro. Bortoncello critica a influência da mineradora na decisão.

"É visível que há um distanciamento entre os moradores de Macacos e a administração municipal. Sobre essa questão da escola, desde de quando cabe à mineradora escolher se a escola sai ou não do lugar. No momento que uma decisão desse porte é tomada por quem causou o dano, isso só mostra a relação tormentosa que o Estado de Minas Gerais tem com a mineradora".

Para o vice-presidente da Associação de Moradores de Macacos, José Paulo Ribeiro, os atingidos estão abandonados.

"Além de não poder contar com a prefeitura, nós temos que ficar espertos, porque o que parece é que eles querem meter os ferros na gente. As coisas que acontecem em Nova Lima, como cursos de música que tem lá para os jovens, aqui não acontece. Eles queriam todo mundo caladinho, aceitando tudo que Vale coloca. A poeira tem tomado conta de todos nós aqui, aumentou o número de pessoas doentes."

A Prefeitura de Nova Lima negou que haja descaso. Sobre a Escola, a administração do município reiterou que o imóvel se encontra fora da área de inundação e que já pretendia construir uma nova unidade.

O Ministério Público de Minas Gerais lançou, em julho, um edital de chamamento para, entre outras coisas, contratar assessoria técnica independente aos atingidos. Após um juiz do Tribunal de Justiça de Minas dar um parecer favorável à medida, ela foi suspensa por uma desembargadora. O Ministério Público informou que vai recorrer da decisão.

Durante uma audiência, o presidente da Associação de Moradores de Macacos, Raul Franco, denunciou que a Vale se nega a reconhecer parte dos atingidos.

"A Vale insiste em não reconhecer todas as pessoas como atingidas. Ela quer reconhecer um "pinguinho" de gente que está ali na mancha e ela nega sistematicamente a reparação de todo mundo que tenta lá, mesmo na tal da via individual ou na via coletiva. A obra de frente pro bairro de Macacos, é barulho dia e noite, poeira nem se fala, o melhor amigo do morador de Macacos agora é a bombinha de asma. E quando a gente tem uma vitória coletiva, ela é revertida".

A Vale não respondeu aos questionamentos sobre o reconhecimento de atingidos. Também por nota, a mineradora informou que, até o momento, 75 famílias que saíram de suas residências estão hospedadas em hotéis, pousadas e casas de parentes. E outras 19 famílias estão morando em casas alugadas pela empresa.

A mineradora disse, ainda, que as famílias recebem auxílios financeiros e outros tipos de assistência. Sobre o assunto, a CBN também procurou os posicionamentos do Tribunal de Justiça de Minas Gerais e do Governo Estadual, que não se manifestaram até o fechamento da reportagem.

Share this post!

Bookmark and Share

0 comentários:

Postar um comentário