A
Organização das Nações Unidas criticou duramente o governo
brasileiro, a Vale e a mineradora anglo-australiana BHP pelo que
considerou uma resposta "inaceitável" à tragédia de
Mariana.
Em
comunicado divulgado na
última
quarta-feira (25),
que traz falas do relator especial para assuntos de Direitos Humanos
e Meio Ambiente, John Knox, e do relator para Direitos Humanos e
Substâncias Tóxicas, Baskut Tuncak, a ONU criticou a demora de três
semanas para a divulgação de informações sobre os riscos gerados
pelos bilhões de litros de lama vazados no Rio Doce pelo rompimento
da barragem, no último dia 5.
"As
providências tomadas pelo governo brasileiro, a Vale e a BHP para
prevenir danos foram claramente insuficientes. As empresas e o
governo deveriam estar fazendo tudo que podem para prevenir mais
problemas, o que inclui a exposição a metais pesados e substâncias
tóxicas. Este não é o momento para posturas defensivas",
disseram os especialistas no comunicado.
Em
entrevistas, a presidente Dilma Rousseff tem negado negligência no
caso. A Samarco, por sua vez, tem afirmado que suas operações eram
regulares, licenciadas e monitoradas dentro dos melhores padrões de
monitoramento de barragens.
Ainda
na quarta-feira
(25),
pela manhã, no programa Bom Dia Ministro, os ministros Izabella
Teixeira (Meio Ambiente) e Gilberto Occhi (Integração Nacional)
disseram que "desde o primeiro momento" o governo "atuou
em uma força tarefa com todos os setores na busca de salvar
pessoas".
A
ONU menciona a contradição nas informações divulgadas sobre o
desastre, em especial a insistência da Samarco, joint venture
formada por Vale e BHP para explorar minérios na região, de que a
lama não continha substâncias tóxicas. E descreve com detalhes o
desastre ecológico provocado pelo vazamento, incluindo a chegada da
lama ao mar.
"As
autoridades brasileiras precisam discutir se a legislação para a
atividade mineradora é consistente com os padrões internacionais de
direitos humanos, incluindo o direito à informação. O Estado tem a
obrigação de gerar, atualizar e disseminar informações sobre o
impacto ambiental e presença de substâncias nocivas, ao passo que
empresas têm a responsabilidade de respeitar os direitos humanos",
afirmou Tuncak.
Os
dois especialistas classificaram a tragédia como mais um exemplo de
negligência de empresas em proteger os direitos humanos e traçam um
quadro desolador pós-desastre para as comunidades afetadas.
"Poderemos
jamais ter um remédio eficaz para as vítimas, cujos parentes ou
ganha-pão podem estar debaixo dessa onda de lixo tóxico, e nem para
o meio ambiente, que sofreu danos irreparáveis. Empresas trabalhando
com atividades envolvendo o uso de material de risco precisam ter a
prevenção de acidentes no centro de seu modelo de negócios".
A
BBC Brasil entrou em contato com a Samarco, a Vale e a BHP. Até a
noite da
quarta-feira (25),
a Vale respondeu dizendo que não comentaria a nota da ONU mas que
esclarece, em seu site, que os rejeitos de mineração não são
tóxicos.
A
Samarco afirmou que "respeita o direito de expressão da ONU,
porém afirma que todas as medidas estão sendo tomadas para prestar
assistência emergencial às famílias e comunidades afetadas e para
a mitigação das consequências socioambientais desse acidente"
e que "desde a ocorrência do acidente em sua Barragem de Fundão
vem permanentemente informando à sociedade, autoridades e imprensa
que o material proveniente das barragens não apresenta perigo à
saúde humana".
Diante
da crítica e, consequentemente, de tantas opiniões e vilões, a
diretora do Stiquifar, Graça Carriconde, acredita ser necessário
ressaltar a responsabilidade dos parlamentares de todo o país que
aprovam o Código da Mineração visando apenas interesses
capitalistas. Na ocasião, a diretora reforça que os prejuízos
sociais e ambientais são incalculáveis e não podem ser
transferidos para a sociedade, já que, há a ineficiência do Estado
por trás da tragédia.
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