A mineração deve se recuperar mais rapidamente do que os outros setores da economia da crise provocada pela pandemia de coronavírus. A demanda por minério de ferro e outros recursos minerais deve cair durante a inevitável recessão brasileira. Mas representantes do setor apostam na retomada econômica da China e na compensação no mercado externo da crise interna. Porém, o efeito da COVID-19 deve ser sentido no longo prazo. Até o momento, as mineradoras ainda relatam pouco impacto do vírus nas operações.
Apesar da retração da economia brasileira e da queda do consumo, a mineração deve ser um dos setores que vão se recuperar mais rapidamente da crise provocada pelo coronavírus, ao lado da agropecuária. Essa avaliação é do diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Flávio Ottoni Penido.
“A partir do momento em que diminui a venda interna de geladeiras, carros e panelas, esse efeito vem vindo de trás para a frente. Mas a mineração tem facilidade de retornar. Quando é demandada, tem uma capacidade instalada que permite isso”, diz Penido.
O principal motivo para o otimismo do diretor-presidente do Ibram está no mercado internacional e na capacidade de exportação do setor. Segundo Penido, a China, que conseguiu controlar o avanço do novo coronavírus, já está voltando a procurar minério. “Em um primeiro momento, a demanda internacional cai. Mas na China os estoques de aço já estão baixos. E agora devem iniciar um grande investimento em infraestrutura”, explica.
Por outro lado, Penido pondera que a retomada não será imediata ou uniforme. O setor de pesquisa mineral deve demorar mais a se recompor, por precisar de mais funcionários trabalhando em espaços menores, o que é desaconselhado num contexto de circulação do vírus.
A perspectiva do diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da mineradora Vale, Luciano Siani, é parecida. O executivo afirmou em transmissão promovida pelo jornal Valor Econômico que a China está se recuperando mais rapidamente do que a Europa e os Estados Unidos.
Nível normal
Segundo Siani, 70% da produção da Vale é voltada para a China, onde o investimento em construção civil é forte. “Na China o lockdown [isolamento total] foi rigoroso, durou três meses. No primeiro trimestre a produção de aço cresceu, mesmo com o lockdown. As atividades da indústria já estão de volta aos níveis normais. A construção civil está aumentando diariamente. Os estoques de aço e minério de ferro estão caindo”, analisou o diretor-executivo, que se diz otimista com a situação do país asiático.
Desde o final de março, quando o Ministério de Minas e Energia (MME) editou a portaria 135/ 2020, a mineração é considerada atividade essencial durante a pandemia do novo coronavírus. Dessa forma, os funcionários das mineradoras continuaram trabalhando, tanto na extração dos recursos minerais quanto na pesquisa. O diretor-presidente do Ibram defende a continuidade do trabalho. “Existe toda uma cadeia produtiva. A mineração tem uma responsabilidade e é essencial para que os demais setores da indústria possam funcionar”, argumenta.
Mesmo com previsões de queda na produção, ainda é cedo para para se ter uma ideia abrangente a respeito do efeito da pandemia no setor. Em comunicado, a Vale afirma que a pandemia da COVID-19 tem “impacto limitado” nas operações. A empresa suspendeu a operação de um terminal marítimo na Malásia, o que não impactou na produção. Também suspendeu a mineração em Voisey’s Bay, no Canadá, por até quatro meses, mantendo a manutenção da mina. Por fim, postergou planos de manutenção corretiva em uma planta de processamento de carvão em Moçambique.
Porém, a mineradora avalia que o adiamento de paradas de manutenção programada em diversas plantas deve prejudicar o nível de produção, especialmente no segmento de metais básicos. Além disso, prevê um impacto na produção por causa da demora de processos de inspeção e autorização, para a retomada da atividade de minas paradas.
De acordo com o diretor-executivo da Arcelor Mittal Mineração Brasil, Sebastião da Costa Filho, a pandemia “não alterou a produção de granulados e concentrados de minério de ferro” da empresa. A companhia tem duas minas em Minas Gerais. A Mina de Serra Azul, em Itatiaiuçu, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e a Mina do Andrade, em Bela Vista de Minas, na Região Central do estado.
Costa Filho afirma que as instalações continuam produzindo dentro do esperado para o período. “A prioridade da produção é para o consumo das plantas siderúrgicas da empresa”, explica o executivo. Já a multinacional Kinross, que extrai ouro da Mina do Ouro, em Paracatu, no Noroeste do estado, afirma que a produção não foi afetada pela pandemia.
Fonte: O Jornal Estado de Minas
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