Com crise nas usinas, Usiminas desliga altos-fornos e VSB dá férias coletivas


Fonte: Estado de Minas

Cidades mineiras onde a economia é dependente do desempenho da indústria mineradora e da siderurgia, estão sentindo a queda das encomendas internacionais em setores chaves, como comércio, serviços e construção civil. Em Ipatinga, no Vale do Aço, onde a Usiminas vai abafar um alto-forno e começar a reduzir a produção de ferro-gusa a partir de junho, foram fechadas 751 vagas de emprego em setores variados em 2015. Em Jeceaba, o Sindicato dos Metalúrgicos de Ouro Branco, Congonhas, Jeceaba e Base firmou acordo para suspensão de contrato de trabalho na siderurgica VSB, fabricante de tubos de aço que praticamente vai parar. Segundo o sindicato o acordo com empresa, começa a entrar em vigor em junho e vai garantir a estabilidade do emprego a 1.400 trabalhadores, por 11 meses.

Segundo Carlos José Cavalcanti, diretor do sindicato, a partir de junho os trabalhadores entram em férias coletivas pelo período de cinco meses, quando vão fazer curso de capacitação, com duração de quatro horas diárias, sem redução de salários. “No retorno haverá estabilidade por mais seis meses. Nesse momento de crise, nossa maior preocupação é evitar demissões”, diz Cavalcanti. Como o preço dos produtos também foram reduzidos, a crise é sentida por todos os lados. “A arrecadação com tributos do poder público fica menor. De dezembro do ano passado a março foram 507 demissões no setor metalúrgico”, ressalta.

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho (Caged/MTE), mostram que em Ipatinga o desemprego é mais forte na construção civil e comércio local. Em 31 de maio e 4 de junho, a Usiminas anunciou que vai desligar dois de seus cinco altos-fornos, sendo um em Cubatão e outro em Ipatinga, reduzindo a produção de ferro-gusa em 120 mil toneladas mensais, e o receio é que a redução da atividade repercuta no emprego.

Procurada pela reportagem a companhia não comentou o impacto da redução do ritmo da produção nos postos de trabalho. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga e Região (Sindipa), as despensas tem ocorrido de forma gradual e não constituem demissão em massa, contrário do que ocorreu na Usiminas Mecânica, que cortou 112 trabalhadores entre 4 de dezembro e 11 de maio. “Notificamos a Usiminas para uma reunião, porque precisamos esclarecer pontos do fato relevante divulgado. Consideramos que a quantidade anunciada, de menos120 mil toneladas ao mês é grande demais e queremos ter garantias da manutenção do emprego”, diz Geraldo Magela Duarte, diretor do Sindicato.

Em Ipatinga, a hotelaria é um dos setores mais afetados pelo desaquecimento da demanda por produtos siderúrgicos. A retração dos negócios, um problema enfrentado por toda a indústria siderúrgica brasileira, chega aos fornecedores de matérias-primas e insumos e aos prestadores de serviços, reduzindo a ocupação dos hotéis. Nos últimos três anos, a crise levou ao fechamento de 12 empreendimentos em Ipatinga, Timóteo e Coronel Fabriciano, de acordo com o sindicato local das empresas.

Para tentar reverter a baixa dos negócios estimada em 40%, de acordo com o presidente do sindicato patronal – que envolve também os bares e restaurantes –, Benedito Pacífico da Rocha, os empreendedores da hotelaria buscam novos clientes oferecendo serviços de salão de festas, bufê e restaurantes. “O desaquecimento do mercado de aço afeta o turismo de negócios na nossa região, mas acreditamos que o segundo semestre será melhor”, afirma. As empresas veem perspectiva de ampliação do setor de serviços com o crescimento da educação superior no Vale do Aço. São pelo menos quatro grandes universidades instaladas nas cidades-polo e mais de 20 mil alunos. Representantes de entidades empresariais de Ipatinga já se reuniram com o presidente da Usiminas, Rômel Erwin de Souza, para discutir o impacto da crise.

Congonhas Em Congonhas, onde atuam indústrias extrativas, como Vale e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), o saldo de empregos do ano é negativo. De janeiro a março a queda é 0,28% segundo dados do Caged. Em março, a avariação do mercado de trabalho formal ficou negativa em -0,86%, com o saldo de 110 vagas fechadas.
Wilson Oliveira Dutra há 39 anos está à frente da Agricol, empresa especializada em insumos a indústria mineradora, em Congonhas. A empresa fornece insumos como equipamentos de proteção individual, máquinas, ferramentas tanto para a indústria quanto para as empresas terceirizadas, prestadoras de serviços. “O movimento caiu demais, perto de 40%”, calcula Dutra. Ele diz que apesar do otimismo quanto a retomada da economia mundial em 2015 não há perspectivas de recuperação rápida e os resultados do ano devem encolher na ordem de 30%. Para driblar a crise ele está investindo em promoções.

Empregos sentem impacto

Em Itabira, outra cidade mineira afetada pela crise no setor mínero-siderúrgico, a preocupação dos fornecedores e prestadores de serviços locais com a retração dos preços do minério de ferro, carro-chefe da indústria mineral no estado, faz todo o sentido. Em abril a mineradora Vale informou que estuda reduzir o ritmo da produção das minas com custos mais altos e menos eficientes em Minas Gerais. O que a empresa busca neste momento de cotações em baixa e redução do crescimento da economia mundial, em especial da China, maior consumidor do mundo, é a otimização da produção, como destacou o presidente da companhia, Murilo Ferreira, durante a divulgação dos resultados do primeiro trimestre do ano.

A situação em Itabira e outras cidades mineiras se repete por todo o país. Em março de 2015, o total de assalariados na indústria caiu 0,6% frente ao mês anterior. Na comparação trimestral, o emprego na indústria apontou retração de 0,7% no período de janeiro a março de 2015, nona taxa negativa nessa comparação. No confronto com igual mês do ano anterior, o emprego industrial mostrou queda de 5,1% em março de 2015, a pior desde outubro de 2009.

No acumulado do primeiro trimestre do ano, houve queda de 4,6%, com retração nos 18 setores investigados. As mais relevantes vieram de meios de transporte (-8,8%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (-11,9%), produtos de metal (-9,3%), outros produtos da indústria de transformação (-8,2%), máquinas e equipamentos (-5,1%), alimentos e bebidas (-1,5%), calçados e couro (-7,1%), vestuário (-4,3%), metalurgia básica (-6,3%), papel e gráfica (-3,4%) e refino de petróleo e produção de álcool (-6,6%).

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