Três candidatos disputando a velha política


Luis Nassif,
na Coluna Econômica
Os eleitores querem uma nova forma de fazer política. Não é isso o que disseram as passeatas de junho passado, o descrédito geral com a política - aliás, um fenômeno mundial - a sede de participação eclodida com as redes sociais? As pesquisas de opinião identificam desejo de mudança em 75% dos brasileiros.
E o quê os três candidatos à presidência da República têm a oferecer como visão de futuro? Rigorosamente, nada. Nenhum deles capturou minimamente essa ansiedade geral, esse desejo de abraçar o novo, venha de onde vier.
No seu último pronunciamento, Dilma Rousseff dirigiu-se aos trabalhadores garantindo que jamais arrochará salários. Ótimo! Por seu lado, Aécio Neves e Eduardo Campos acenam para os empresários e para o mercado financeiro com uma responsabilidade fiscal maior e um combate mais intenso à inflação. Ótimo!
Agora, contem uma novidade.
No próximo ano, seja quem for o presidente a política econômica será a mesma. Longe se vão os tempos em que o único cliente de política econômica era o mercado. O fantasma da hiperinflação permitia aplicar toda sorte de maldades para atender a um público único: o tal mercado.
As campanhas eleitorais visavam dois públicos específicos: o tal mercado e um público genérico que ainda acredita em promessas de campanha.
Já alguns anos, o país é outro. Tornou-se definitivamente uma democracia social, com uma sociedade civil pujante, movimentos sociais, ONGs, associações atuando em todos os campos.
Em fins de 2009, o país já conseguia dar forma a uma das grandes construções sociais da Constituição de 1988: as conferências nacionais. Seguia-se o modelo extraordinário do SUS (Sistema Único de Saúde), com conferências nacionais sendo precedidas de conferências estaduais e municipais.
Em determinado momento, parecia que o país tinha alcançado um estágio superior de formação cívica.
Junto com o meio empresarial, com sindicatos do setor, com institutos de pesquisa, houve uma Conferência de Inovação que juntou público em todos os cantos do país. Juntamente com ela, conferências de saúde, de educação, de assistência social.
O modelo parecia vitorioso.
Em cada município levantavam-se os temas que afetavam diretamente a ação local. Nas conferências estaduais, consolidavam-se as diversas visões municipais para se identificar os temas de abrangência estadual. Depois, na conferência nacional preparavam-se documentos com os diagnósticos e soluções.
A partir desses documentos, o governo federal poderia definir formas de distribuição dos recursos orçamentários, obedecendo a regras de aplicação preparadas ouvindo amplamente a sociedade civil.
Foram momentos exuberantes de cidadania. Apenas a Conferência de Educação juntou mais de 800 mil pessoas em todo o país.
Qual a atenção que os três candidatos dedicaram a essa construção social? Nenhuma.
A presidente Dilma Rousseff chegou a interferir pessoalmente junto a senadores para mudar o Meta 4 do PNE (Plano Nacional da Educação) abrindo espaço para que a banda mais nebulosa das APAEs (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais) pudesse receber recursos públicos para ministrar cursos regulares - mantendo uma política injusta e anacrônica de exclusão das crianças com deficiência do ensino regular.
Os outros dois candidatos provavelmente jamais dedicaram um minuto da atenção para pensar em mecanismos de participação.
O maior desperdício do país não é de água jogada fora, de alimentos que estragam em armazéns sem condições, de esgoto que é jogado nos rios: é de ideias desperdiçadas.
Mais que isso, de movimentos orgânicos que nascem, a partir das ideias iniciais, ganham vida, vicejam e depois são abandonados pelo atraso político das principais lideranças nacionais.

Até agora, nenhum dos três candidatos entendeu e soube expressar o novo. Espera-se que até o início da campanha eleitoral, sejam capazes.

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