Apesar da crise, usinas vão investir mais em logística




O setor sucroalcooleiro vive a maior crise de sua história. Nas últimas cinco safras, 44 usinas fecharam, 25 delas em São Paulo. Outras 33 usinas estão em recuperação judicial e 12 unidades não vão moer cana este ano. A avaliação e os números foram novamente destacados por Elizabeth Farina, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar
(Unica), que afia o discurso às vésperas de receber na próxima segunda-feira os três principais pré-candidatos à presidência da República, em evento do setor sucroalcooleiro em São Paulo.

Crítica feroz do controle dos preços de combustíveis no país - que impõem um teto para o preço do etanol hidratado - e da falta de transparência nas regras do mercado de combustíveis, Elizabeth Farina reforçou, em entrevista ao Valor, que essa crise vem levando a uma grande perda de empregos no interior dos Estados produtores de cana-de-açúcar.

Por ser o maior Estado produtor de etanol do país, São Paulo é um dos mais afetados pela crise - 75% dos municípios paulistas "se relacionam" com o cultivo de cana de alguma maneira. "Há mais de 100 usinas no Estado e atualmente tudo está em risco. Todo dia recebemos um usineiro que está sem condições de honrar seus compromissos", disse.

Nesta semana, a entidade divulgou o conteúdo da carta em que os dois pré-candidatos à presidência - Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSD) - enviaram confirmando suas participações em evento do setor na noite da próxima segunda-feira. Os dois criticaram a política para o etanol do atual governo e anteciparam parte do discurso que farão na ocasião, de apoio ao biocombustível. A entidade não divulgou se a presidente Dilma confirmou ou não a participação no evento.



Mas, conforme Elizabeth, neste momento a fotografia do segmento é de incertezas quanto ao futuro. Há tempos os bancos não recebem pedidos para financiar a construção de novas usinas. "Isso impacta fortemente a cadeia produtiva e o setor de máquinas e equipamentos, que vem a montante", afirmou.

Em 2012, o segmento sucroenergético investiu mais de R$ 4 bilhões em renovação e expansão de canaviais, em um esforço para recuperar a produtividade e aumentar a oferta da cana. Nas últimas seis safras, os investimentos na região Centro-Sul em equipamentos agrícolas para acelerar o fim da queima nos canaviais somaram R$ 4,5 bilhões.

Também houve aportes em armazenagem de etanol e em escoamento da produção - sendo US$ 1,5 bilhão em ferrovias, terminais, transbordos e armazéns. Até 2017, a Unica estima que outros US$ 3,5 bilhões sejam investidos em dutos e hidrovias para desenvolvimento da logística de distribuição e exportação do etanol.

"Apesar da crise, esses investimentos são impressionantes. O que mostra que há comprometimento do segmento com o futuro, mas antes é preciso sobreviver a este período". Segundo Elizabeth Farina, ainda dá tempo de virar o jogo, desde que o governo torne isso prioritário e considere o combustível renovável estratégico para a matriz energética.

Além de questões macroeconômicas que desaceleraram a economia global, o etanol foi afetado por políticas internas, como a redução a zero do tributo sobre a gasolina (Cide), que tirou competitividade do combustível renovável, lembra Elizabeth. "A competitividade do etanol tem que ser valorizada por aspectos que não estão incluídos no preço, por meio de política tributária diferenciada", afirmou.

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