Após colher resultados considerados excelentes em 2012 e de aproveitar o crescimento da produção brasileira de grãos para seguir em expansão em 2013, a subsidiária da multinacional americana Archer Daniels Midland (ADM) no país prevê um cenário menos favorável para seus negócios em 2014.
"Será um ano desafiador, em razão da dimensão da nova safra e dos reflexos da recomposição dos estoques globais nos preços de commodities como milho e soja. O quadro exigirá cautela de todos os envolvidos na cadeia produtiva. Mas tende a ser um ano mais previsível, especialmente no que se refere à logística, e o câmbio tem favorecido as exportações", afirma Valmor Schaffer, presidente da ADM do Brasil e responsável pelas operações do grupo na América do Sul - exceto Argentina.
Apesar dos gargalos que tumultuaram o escoamento da produção no primeiro trimestre de 2013 - e geraram perdas da ordem de US$ 2,5 bilhões às indústrias exportadoras de grãos, de acordo com estimativa da associação que os representa (Anec) -, o braço brasileiro da ADM voltou a ampliar seus embarques no ano.
Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), de janeiro a novembro as exportações da ADM do Brasil renderam US$ 4,1 bilhões, 11,1% mais que em igual período do ano passado (US$ 3,7 bilhões) e valor uma vez e meia superior ao total registrado em 2010 (US$ 2,6 bilhões). No intervalo, a companhia foi a sexta maior exportadora do país, atrás de Vale, Petrobras, Bunge, BRF e Cargill.
Conforme Schaffer, o movimento foi "muito forte" na exportação de grãos, com destaque para o milho, "que trouxe um impulso adicional que compensou os problemas do primeiro trimestre". Os embarques de milho da companhia rivalizaram com os de soja e superaram 3 milhões de toneladas em 2013. No total, as exportações brasileiras de milho somaram 23,5 milhões de toneladas nos 11 primeiros meses do ano passado.
O executivo afirma que, em alguns períodos de 2013, de cada três navios que deixaram o porto de Santos (SP) com grãos, um foi da ADM ou de empresas coligadas. Os embarques foram liderados por soja, milho, derivados como farelo e óleo, e algodão, que voltou a ganhar força. O expressivo crescimento das exportações teve reflexos positivos sobre o faturamento, mas os resultados da subsidiária são mantidos em sigilo.
Schaffer informa apenas que, em razão de uma acelerada expansão nesta década, a receita da ADM na América do Sul - liderada pelo Brasil e incluindo a Argentina - já representa entre 8% e 9% do valor global. Nos primeiros nove meses de 2013, as vendas líquidas totais da multinacional, uma das maiores empresas de agronegócios do mundo, atingiram US$ 65,7 bilhões, mesmo patamar de igual intervalo de 2012. Já o lucro líquido cresceu 12%, para US$ 968 milhões.
Além do Brasil, o executivo responde pelas subsidiárias da ADM no Paraguai e na Bolívia, onde a produção de soja também é crescente, e no Chile, mercado no qual a múlti tem expandido negócios nas áreas de proteínas vegetais e fertilizantes.
O peso das exportações da subsidiária brasileira da companhia americana também se reflete nos investimentos realizados no país. Nos últimos três anos, foram cerca de US$ 400 milhões, grande parte direcionada a projetos na área de logística e infraestrutura. "É muito importante termos o domínio da cadeia, da originação ao embarque", diz Schaffer.
Ele não detalha os investimentos que deverão ser feitos no Brasil em 2014, mas deixa claro que a logística continuará a ser prioritária. Não por coincidência, o principal projeto em curso da ADM na América do Sul envolve um novo terminal portuário em Barcarena, no Pará, por onde já poderão ser escoadas cerca de 1 milhão de toneladas de produtos neste ano, trazidas por rodovias e barcaças.
Se as exportações foram bem em 2013, o mesmo já não se pode dizer do processamento de soja, outro pilar importante dos negócios da ADM do Brasil. Nesta frente, a capacidade da subsidiária continua estável em cerca de 4 milhões de toneladas por ano, dividida em quatro unidades, e as margens desse negócio vêm sendo prejudicadas pela estagnação do programa brasileiro do biodiesel.
Como outras produtoras do biocombustível, a ADM usa como matéria-prima principalmente a soja. Tem duas plantas no país, ambas ociosas, e espera que o governo aprove logo o aumento da mistura obrigatória de biodiesel no diesel de 5% para 7%. "O setor está preparado para o B7. Será um impulso necessário. Estamos otimistas em relação à preocupação do governo em equacionar o problema", diz Valmor Schaffer.
Outro biocombustível que continua a dar dor de cabeça é o etanol. A ADM conta com uma usina com capacidade de moagem de 1,5 milhão de toneladas de cana por safra, mas em virtude de problemas climáticos nos últimos anos e da política de preços dos combustíveis do governo, o negócio custa a dar retorno. "Neste momento, o segmento sucroalcooleiro é o mais desafiador".
E continuará a ser em 2014, quando Schaffer espera que os problemas para o escoamento da produção em direção aos portos sejam bem menores que os do ano passado. "Questões macro que envolvem a cadeia logística foram encaminhadas, mas há grandes pendências. Haverá problemas no primeiro trimestre, mas menores, até porque os embarques de milho deverão terminar já na primeira quinzena de janeiro, abrindo mais espaço para a soja. Teremos filas em estradas e portos, mas não haverá caos".
Fonte: Valor Econômico/Fernando Lopes | De São Paulo
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