A indústria química, quarto maior segmento da
indústria de transformação no Brasil, vai encerrar o ano com deficit comercial
de US$ 28,1 bilhões, um novo recorde.
Segundo cálculos da Abiquim (Associação Brasileira
da Indústria Química), as exportações caíram para US$ 15,1 bilhões neste ano,
enquanto as importações subiram para um novo patamar, também recorde, de US$
43,1 bilhões.
Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (10)
durante o 17º Encontro Anual da Indústria Química, em São Paulo. A preocupação
do conjunto da indústria química é visível. "Foi um ano ruim",
classificou um industrial.
O pacto sugerido ao governo pelo setor há dois anos
ainda não conseguiu alterar o contexto atual do setor químico e petroquímico. O
mercado brasileiro cresce, mas a expansão continua a ser aproveitada pelas
importações.
O diagnóstico apresentado no pacto alertava o país
para o risco de deficit comercial explosivo no conjunto da indústria. A
previsão é a de que em 2020 o déficit alcance US$ 50 bilhões.
O pacto tinha o propósito de que os investimentos
de US$ 167 bilhões nesta década faria que o país caminhasse para zerar o
déficit até 2020. Isso tem ficado mais longe.
Medido pelo dólar, o faturamento da indústria
química deverá cair 2,7% neste ano, para US$ 153 bilhões. A redução foi similar
àquela registrada após a crise financeira internacional que afetou o desempenho
da indústria em 2009.
POUCO PRESTÍGIO
O segmento químico e petroquímico integra o
Programa Brasil Maior, plano ao qual está vinculado a política industrial do
governo Dilma Rousseff.
Desde maio, a indústria discute com o governo um
pacote de medidas para reativar o segmento. Exceto medidas pontuais, que
atendem todo o conjunto da indústria de transformação --como a desoneração da
folha de pagamento--, pouca coisa avançou.
A situação fez o presidente do conselho da Abiquim
(Associação Brasileira da Indústria Química), Henry Slezynger, fazer uma
provocação durante o encontro nacional, em São Paulo.
"Temos 3.000 empresas, geramos 400 mil
empregos diretos, pagamos o dobro do salário médio da indústria e faturamos US$
150 bilhões, mais do que os US$ 130 bilhões da indústria automobilística",
disse quando se referiu ao pouco "prestígio" que o setor químico tem
em relação aos benefícios que as montadoras recebem do governo.
LEI DO GÁS
Além da desoneração dos investimentos, o setor pede
uma política nacional para acesso ao gás natural como matéria prima
competitiva. A Lei do Gás já considera o uso do gás como insumo para a produção
industrial.
O setor quer que o governo interceda junto a
Petrobras e garanta oferta de gás natural para a cadeia petroquímica.
Enquanto o Brasil, há anos, produz 4 milhões de
toneladas de eteno --o principal produto da cadeia do plástico--, os Estados
Unidos tem projetos para produção de 11 milhões de toneladas. E fará isso com o
uso do chamado gás de xisto ou "shale gas".
XISTO AMERICANO
Enquanto o custo do gás natural como matéria-prima
no Brasil é de US$ 12 por milhão de BTU (medida britânica para medir o poder
calorífico do gás), a indústria petroquímica americana está ressurgindo a
partir da oferta de gás ao preço de US$ 2,50 a US$ 3 por milhão de BTU.
Isso tem sido possível graças ao desenvolvimento do
sistema de fraturamento hidráulico de rochas em poços de exploração
horizontais. Isso permitiu que os produtores de óleo e gás acessem novos e
imensos campos no subsolo dos Estados Unidos, algo que lhes deram reservas
estimadas em 862 trilhões de pés cúbicos, a segunda do mundo.
O Brasil também tem potencial para exploração do
gás de xisto --as reservas aqui são estimadas em 226 trilhões de pés cúbicos--,
mas o problema é que esse tipo de prospecção é incipiente no país.
AUTOSSUFICIÊNCIA
"Enquanto isso, estamos apontando no pré-sal,
uma reserva importante, mas que tem um custo de exploração muito mais alto do que
nossos concorrentes. É algo a se pensar", disse Slezynger.
O gás de xisto não tem força apenas de remontar a
indústria química e petroquímica americana, pode em poucos anos alterar
profundamente a atual ordem geopolítica do planeta.
O presidente do conselho da Abiquim acha que a
autossuficiência na produção de gás e de petróleo nos Estados Unidos terá
consequências muito maiores do que a redução das importações da Venezuela e do
Oriente Médio.
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