O segmento químico não
desiste de reduzir perdas comerciais históricas, que só neste ano devem bater
um novo recorde: US$ 28,1 bilhõesA despeito do saldo negativo na balança
comercial, o setor químico continua investindo. De acordo com Associação
Brasileira da Indústria Química (Abiquim), apenas a área de produtos de uso industrial receberá investimentos de US$ 19,1 bilhões entre
2011 e 2016. Apesar disso, a indústria não desiste de reduzir o déficit
comercial histórico do setor, que só neste ano deve bater um novo recorde, de
US$ 28,1 bilhões. A notícia acendeu a luz amarela na indústria que vê na adoção
do Regime Especial de Tributação da Indústria Química (Reiq), esperado desde o
primeiro semestre do ano, como urgente. Segundo a entidade, se as condições do
mercado e da competitividade para as companhias que operam no País não forem
alteradas, o valor do déficit poderá bater na casa dos US$ 50 bilhões até o ano
de 2020.
De acordo com o presidente do Conselho
Diretor da entidade, Henry Slezynger, que também é o presidente da Unigel, o
ponto básico para o setor é ter mais competitividade por meio de menores custos
de produção. Entre os aspectos estão o gás natural com menor preço para o uso
da indústria química, assim como a redução da tributação para os investimentos
e logística mais eficiente.
Segundo o documento Pacto da Indústria Química, uma espécie de carta de
intenções do setor, a perspectiva é de que as empresas investissem cerca de US$
160 bilhões na ampliação da capacidade instalada no Brasil.
Apesar das reclamações, o executivo
destacou que já é possível ver uma luz no fim do túnel com as medidas de
redução do preço da energia elétrica, que está em curso com a redução de
encargos e a perspectiva de fim da chamada Guerra dos Portos, que constituía em
incentivos que determinados estados davam a importadores para usar a sua estrutura
com descontos do Imposto de Circulação de Mercadoria eServiços (ICMS).
Mesmo assim, na avaliação do executivo
o setor precisa mais. Essa é a mesma opinião do presidente de uma gigante do
setor, a Braskem. Carlos Fadigas disse que ainda não há uma sinalização clara
por parte do governo sobre o nível das importações no setor químico no Brasil.
Um sinal de que as condições do mercado
externo podem ficar mais competitivas que o Brasil está no fato de que após o
surgimento do gás de xisto nos EUA, outros países também começaram a prospectar
esse insumo que alavancou a retomada da indústria petroquímica naquela região.
Slezynger citou pesquisas até mesmo na Argentina e no Brasil, mas com a
diferença de que por aqui, as empresas não demonstram o real interesse em
explorar essa fonte de energia no médio prazo.
O presidente da Unigel lembrou
durante o Encontro Nacional da Indústria Química 2012, que a matéria prima nacional acaba competindo com as reservas de shale gas pelo mundo.
“No Brasil já foram identificados mais de 200 trilhões de pés cúbicos na Bacia
do Paraná, mas ainda há no Solimões e Parnaíba áreas ainda não exploradas”,
disse ele. “As concessões dadas para a exploração de gás não estimulam a
procura dessas reservas considerando que, além de desenvolvê-las, seria
necessária a logística com dutos e não há esforço no Brasil para o
desenvolvimento desta reserva , o esforço atual para descoberta de gás
tradicional”, acrescentou ele.
Já o presidente da Elekeiroz, Marcos De
Marchi, se mostra mais otimista ao destacar que as medidas propostas pelo
conselho de competitividade do setor, que conta com representantes do governo,
acatou as demandas das empresas. Para ele, o tripé entre a desoneração de
investimentos, melhor infraestrutura e matéria prima mais competitiva estão em
análise, mas que a avaliação depende diretamente da decisão do Ministério da
Fazenda, por se tratar de redução da arrecadação.
Por este motivo, há um descasamento
entre as perspectivas federais e as do setor. A estimativa de Slezynger é a de
que o Reiq seja adotado em 2013. Porém, em Brasília, há informações de que
possa ficar apenas para 2014, justamente pelo alto nível de desonerações já
aplicado pelo governo e em função da necessidade de o governo em alcançar o
superávit primário. O presidente executivo da Abiquim, Fernando Figueiredo,
confirmou a razão pelo atraso, mas afirmou que houve uma reunião entre a
entidade e representantes do governo no Conselho de Competitividade onde
garantiram que a medida chega em 2013 mesmo.
“Aguardamos as medidas para 2013 para
que os investimentos na área química, que estão em queda, possam ser feitos
ainda esta década. A rapidez na aprovação será essencial na retomada dos
investimentos do setor”, apontou o executivo. Para ele, se a previsão de
crescimento no Brasil em 2013 se confirmar no nível de 4%, a média de
crescimento da indústria química ficará em torno de 5%, expansão essa que
deverá ser atendida pelo aumento das importações.
Balanço
A indústria química vendeu US$ 153
bilhões no ano de 2012, queda de 2,7% em relação aos US$ 157,3 bilhões de 2011.
Mas essa queda pode ser explicada pela valorização da moeda norte-americana,
tanto que, em reais, o faturamento do setor é 12,4% maior que o de 2011,
passando de R$ 260 bilhões para R$ 293 bilhões, conforme a entidade. Com esse
resultado, o País fica com a sexta maior indústria química mundial.
Apesar do resultado, a perspectiva é de
que o déficit do setor bata um novo recorde ao crescer 12% em comparação com o
ano passado e alcancem US$ 28,1 bilhões desde janeiro até o final deste mês. Dos
segmentos da indústria, os maiores são os produtos de uso industrial é o
responsável por quase metade dos negócios com US$ 71,2 bilhões, produtos
farmacêuticos (US$ 25,5 bilhões), fertilizantes (US$ 17,1 bilhões) e Higiene
Pessoal, perfurmaria e cosméticos (US$ 14, 3 bilhões). Os demais apresentaram
faturamento abaixo de US$ 10 bilhões.
Investimento
O ritmo de investimentos da
Braskem em 2013 será pautado, principalmente, pela construção do Projeto
Etileno XXI, no México. Os investimentos em 2013 podem superar o R$ 1,712
bilhão estimado para 2012. Porém, se excluídos os desembolsos para o México, os
aportes devem apresentar retração na mesma base. A explicação está na cautela
que tem pautado a companhia para 2013. “O conservadorismo continua”, destacou o
presidente da Braskem. O plano de investimentos prevê que R$ 260 milhões serão
investidos no México ao longo deste ano, ou 15% dos desembolsos totais
previstos para 2012.
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