Menos de três meses após o maior desastre socioambiental do Brasil, uma movimentação de rejeitos na Barragem do Fundão, da mineradora Samarco (controlada pela Vale e BHP Billiton), obrigou a empresa a retirar os trabalhadores que atuavam no reforço das barragens do complexo minerário de Mariana, na Região Central de Minas, e a acionar o alerta amarelo, o que assustou a população local.
A mina da Samarco tem três barragens: Germano, a maior delas; Santarém, que armazena água; e Fundão (com rejeitos de mineração da Samarco e da Vale), que rompeu em 5 de novembro provocando a morte de 17 pessoas e deixando outras duas desaparecidas, além de arrasar comunidades e gerar estragos em toda a Bacia do Rio Doce.
A Defesa Civil de Mariana foi avisada do deslocamento pela empresa na tarde de ontem. De acordo com o chefe do órgão, Welbert Stopa, não houve vítimas. “Houve um deslocamento de massa. Foi material acumulado que vazou”, afirmou Stopa. Ele detalhou que esses materiais acumulados são sedimentos do vazamento de novembro e que foi adotado o alerta amarelo, em uma escala de risco que ainda tem o verde (sem perigo) e vermelho (rompimento iminente).
Em nota, a Samarco informou que ocorreu uma “movimentação de parte da massa residual da Barragem do Fundão devido às chuvas das últimas semanas”. A empresa destacou que seguiu o Plano de Emergência e evacuou o local. “Não houve a necessidade de acionamento de sirene por parte da empresa. As defesas civis de Mariana e Barra Longa foram devidamente informadas”, garantiu a mineradora.
Após o rompimento no início de novembro, a Samarco foi obrigada a monitorar as barragens de forma ostensiva, com drones e piezômetros (equipamento que mede a pressão dos reservatórios). Além disso, teve que apresentar um plano de emergência para as barragens Santarém e Germano, o que fez, com atraso, no dia 13.
Boletim da Samarco enviado ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) indicava a presença de 150 trabalhadores nas obras no local. A Barragem de Santarém está sendo reforçada e, segundo relatório do DNPM falta um percentual de 11,9% para a conclusão. O coeficiente de segurança da barragem era de 1,37. O recomendado pela norma de segurança NBR 13.028 é acima de 1,5.
A Samarco também realizou obras no dique de Selinha da Barragem de Germano, que já foram concluídas. O coeficiente de segurança era de 1,22 e subiu para 1,51. Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria, Extração de Ferro e Metais Básico (Metabase) de Mariana, Ronaldo Bento, a movimentação foi provocada pelo sedimento das obras que foram realizadas no dique da Selinha. A Samarco, entretanto, afirmou, via assessoria de imprensa, que o reforço do dique não foi afetado. A empresa garante também que não há risco da lama de rejeitos atingir a Barragem de Santarém.
O engenheiro Gerson Campera, consultor em barragens do Instituto Mineiro de Perícias, considera a situação preocupante. “Toda vez que há passagem de material, a lama leva tudo que está ao lado. Pode virar uma segunda ruptura no serviço de reforço do barramento”, avalia. O tenente do Corpo de Bombeiros Leonard Farah, um dos coordenadores da operação de resgate nas áreas atingidas, afirma que a corporação não foi acionada.
Palavra de especialista
“A situação é preocupante”
“Como ainda há um volume considerável de rejeitos contido na Barragem do Fundão, há risco de uma nova tragédia ocorrer, embora não sob a perspectiva de perda de vidas, porque eles (a Samarco e autoridades) estão sob alerta. Mas a situação é preocupante, porque a área ainda está em obras e um vazamento pode provocar forte impacto ambiental. Outra ameaça é a Barragem de Santarém, que é de água e também está sendo recuperada. O trabalho tem que ser constante em todas as áreas, quanto mais porque houve uma ruptura de grande porte. Espero que esse estado de alerta possa prevenir com relação à perda de vidas humanas, o que não houve no acidente de novembro. Se o restante do rejeito de Fundão vazar, a lama fará o mesmo caminho e a qualidade da água da Bacia do Rio Doce ficará ainda mais comprometida.”
Fonte: Correio Braziliense
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