A média mundial de salários está em alta, mas, no Brasil, a renda real está indo ladeira abaixo, e, ao que tudo indica, os salários brasileiros devem perder a briga com a inflação em 2016. Só até o primeiro semestre de 2015, na comparação com o mesmo período de 2014, enquanto o total de reajustes acima da inflação recuou de 92,7% das negociações para 68,5%, o índice de correção abaixo do INPC aumentou quase seis vezes, de 2,6% para 14,6% dos acordos. Os dados foram levantados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
De acordo com pesquisa da Korn Ferry Hay Group, empresa especializada em recursos humanos e remuneração, em um cenário positivo para o mundo, o Brasil será um dos poucos países que terão queda real no valor dos salários neste ano. Pelo levantamento global, os salários devem ter avanço médio real (descontada a inflação) de 2,5%. No Brasil, diante da crise econômica e também da escalada de preços, a previsão é que os vencimentos dos trabalhadores recuem 1,2%.
A lista dos países que terão perdas reais no salário no ano que vem é liderada pela Venezuela, que convive com a hiperinflação há anos, e onde os trabalhadores deverão perder mais da metade de seu poder de compra. Logo depois vêm a Ucrânia, que convive com uma guerra civil, e a Rússia, onde o descontrole econômico já dura anos.
Nas principais economias globais, não há sinal de crise: tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, os salários vão crescer em 2016. Os resultados do Brasil refletem os valores médios de todos os salários, de acordo com o diretor do Korn Ferry, Gustavo Tavares. Embora a maior parte das convenções coletivas ainda possa garantir a reposição da inflação, o corpo executivo não costuma ser coberto pelos reajustes acertados com sindicatos. “As convenções costumam cobrir salários mais baixos, em geral de até R$ 6.000”.
Para quem tem cargo de gestão, o aperto deverá ser ainda maior em 2016. Há hoje um movimento de substituição de executivos, com redução de salários. As empresas que, ao longo dos anos de bonança, prepararam quadros sucessórios nos níveis gerenciais, estão conseguindo economizar na hora da crise. “Quando o novo ocupante de um cargo de gestão é escolhido internamente, esse profissional ganha, em média, 13% menos que o antecessor”.
Mesmo as companhias que agora buscam executivos no mercado estão tentando economizar, de acordo com o sócio da consultoria em recursos humanos Exec Carlos Eduardo Altona. “Muitas empresas estão buscando pessoas com perfil mais ‘júnior’ no mercado para preencher posições sênior”, explica.
Busca por resultados. Outra tendência do topo da pirâmide é a ênfase em remuneração variável. Ou seja: o executivo só vai receber o bônus caso realmente faça diferença no resultado. Ao trocar de emprego, em agosto de 2015, o executivo Pedro Alba Bayarri, 45, aceitou um pacote que lhe permitia manter a remuneração anterior, mas com um peso maior do variável. “Hoje, o mercado está buscando um tipo de profissional: o que pode fazer o ‘turnaround’ (reestruturação). Por sorte, eu tenho esse perfil”, diz.
Altos cargos
Mercado. Em geral, as empresas vêm oferecendo salários 15% mais baixos. Segundo a consultoria Exec, esse movimento é mais intenso nas posições de direção e vice-presidência.
Desemprego deve piorar neste ano
SÃO PAULO. Em 2015, os brasileiros enfrentaram o fechamento de postos de trabalho em decorrência das dificuldades econômicas no país. Em 2016, o cenário pode se repetir, segundo especialistas. Para o vice-diretor da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Renaut Michel, a taxa de desemprego no Brasil deverá continuar crescendo em 2016, por causa da queda no nível da atividade econômica.Não há nenhum tipo de expectativa positiva, disse o especialista em mercado de trabalho.
Para Michel, embora a construção civil, um dos setores que mais empregam no país, tenha sentido mais a crise, outros setores da indústria poderão ser afetados neste ano.
“A indústria já vem mal há um bom tempo. Enfrenta um problema sério de perda de competitividade, de queda de investimentos. Em alguma medida vai afetar também o comércio e o serviço, porque o ambiente de incertezas está levando as famílias a consumirem menos”. Em consequência disso, os empresários investem menos e bancos também não emprestam.
Já o professor João Luiz Maurity Sabóia, do Instituto de Economia da UFRJ, lembra que em outubro do ano passado a taxa de desemprego era 7,9%, conforme a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, praticamente a mesma registrada em 2008, que foi 7,5%, no auge da crise econômica internacional. “Foram dez anos de melhoras, mas boa parte disso, infelizmente, em um ano de recessão foi revertida”, disse o professor, em referência ao salário e ao número de postos de trabalho gerados no período.
Fonte: O Tempo
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