O número de aposentados que permaneceram ou voltaram ao mercado de trabalho para complementar a renda gerada pelo benefício do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) aumentou neste ano. Cerca de 80% daqueles que ‘penduraram as chuteiras’ na região seguem trabalhando, ou seja, oito em cada dez pessoas. Há um ano, para se ter ideia, eram 60% do total. A estimativa é da Associação dos Aposentados e Pensionistas do Grande ABC.
Dados do INSS mostram que, em julho, conforme dados mais recentes disponibilizados, havia 354,5 mil aposentados nas sete cidades. Desse montante, 283,6 mil seguem na ativa. O rendimento médio da aposentadoria deles é de R$ 1.937, ou seja, pouco menos que dois salários mínimos, o que dá R$ 1.960.
Hoje é Dia do Idoso e, conforme dados da Fundação Seade, existem 332,5 mil pessoas acima de 60 anos no Grande ABC. Se considerarmos o volume de aposentados que continuam trabalhando, ele representa 85,2% do total de idosos – em 2016, para efeito de comparação, eram 87 mil pessoas, ou 30%.
“Se o aposentado não continuar trabalhando, ele não se sustenta. Mesmo já idoso, ele voltou a ser o alicerce das famílias, pois, além de não conseguir pagar suas contas com o benefício do INSS, ele ainda tem de ajudar filhos que perderam o emprego e os netos”, afirma Ewander Cezar Moraes, assessor da diretoria da Associação dos Aposentados e Pensionistas do Grande ABC.
O filho do aposentado Luiz Domingos, 70 anos, que hoje atua como plaqueiro para anunciar a venda de ouro, não perdeu o emprego, mas recebe a ajuda do pai, assim como o neto. “Eu nunca parei de trabalhar. E o que eu ganho não fica só para mim. Eu acabo ajudando outras pessoas da família. Família é tudo para mim. Além de complementar meu benefício de dois salários mínimos para pagar as contas, como o plano de saúde, com esse dinheiro eu posso dar coisas para o meu neto”, conta.
Moraes aponta que, além de ajudar familiares, os aposentados, não raro, estão mais endividados, o que complica a sua situação, pois, muitas vezes, fazem empréstimo no nome de parentes que, diante das dificuldades, não honram com o pagamento, e eles ficam com o nome sujo. “Tem associado que vem se desligar porque pagava 1% do valor da aposentadoria, mas precisava ter margem livre de 30% do benefício para emprestar o dinheiro. Sem contar que muitos já deixaram de pagar convênio médico para poder ajudar os filhos”, afirma.
É o caso da aposentada Cecilia Marques, 72, que, além de seguir na ativa com seu pequeno bazar para completar o benefício de um salário mínimo, há mais de um ano deixou de pagar seu plano de saúde para poder ajudar o filho desempregado. “Só tenho ele, se eu não ajudá-lo, quem vai fazer isso? Infelizmente, tive de abrir mão do convênio, que custava quase R$ 1.000 por mês. Também pedi para o médico do posto passar remédios mais baratos e que sejam gratuitos, senão não consigo pagar por eles”, desabafa.
Moraes aponta que, de fato, a primeira despesa a ser deixada de lado é o convênio, uma vez que seu custo sobe até 20% por ano, enquanto que a aposentadoria, para se ter ideia, foi corrigida em 3,43% (reposição da inflação) para valores acima do mínimo neste ano e em 4,61% (que tem a correção da inflação mais o PIB de dois anos atrás) para o piso (R$ 998). “Ainda bem que o governo voltou atrás na ideia de congelar o salário mínimo, que serve como base para o benefício do INSS”, diz. Dessa forma, as aposentadorias seguem vinculadas à correção do piso nacional, o que garante correção pela inflação.
Fonte: Força Sindical
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