“A Vale tem se aproveitado da pandemia internacional provocada pelo coronavírus para criar uma 'cortina de fumaça' e tentar desviar o foco das demissões que têm ocorrido em ritmo crescente”, denuncia o Sindicato dos Ferroviários do Espírito Santo e Minas Gerais (Sindfer), diante das diversas demissões que vem ocorrendo nos últimos dias, ao menos 40 já registradas pelo sindicato só na categoria que representa. Segundo Wagner Xavier, presidente do Sindifer, as demissões têm relações com o crime da empresa da ruptura da barragem de rejeitos em Brumadinho (MG), no ano passado.
Apesar de considerar que a Vale corretamente garantiu o emprego e estabilidade para os trabalhadores da minas onde ocorreu o crime, os trabalhadores do restante da cadeia estão pagando a conta pela redução da extração devido ao aumento das restrições de órgãos ambientais e judiciais sobre a exploração em Minas Gerais, por conta dos riscos apresentados pelas barragens.
No caso dos trabalhadores da base do Sindfer, estão os da Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM), funcionários das usinas de pelotização e trabalhadores do Porto de Tubarão. Segundo o sindicato, os principais atingidos têm sido os trabalhadores da EFVM, por conta da maior ociosidade da linha férrea diante da queda da produção em Brumadinho e adjacências.
“A Vale não precisa disso. Apesar de todas as crises interna e externa, a mineradora possui um caixa robusto, motivado pelo alto valor internacional do minério de ferro”, apontou a entidade em nota.
O sindicato realiza uma série de movimentações para denunciar a atitude da Vale e garantir o emprego dos trabalhadores, tendo encaminhado a questão para a executiva nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ao Ministério Público do Trabalho e a membros do Conselho de Administração da empresa, além da diretora executiva de Pessoas da Vale, Marina Quental.
Também encaminhou pedido ao governador Renato Casagrande para ajudar na mediação com a empresa e prepara denúncias internacionais para a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e para os sindicatos dos diversos países em que a Vale atua no mundo.
O presidente do sindicato considera que a crise do coronavírus também é conveniente para a Vale, pois dificulta a mobilização da categoria para realização de assembleias e paralisações. Mas um vídeo com a denúncia do Sindfer está circulando nas redes sociais.
Apoio nacional
As demissões da Vale em plena pandemia do coronavírus, disfarçadas de decisões técnicas, também motivaram críticas do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
"Como a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, caem agora sobre as costas dos trabalhadores o ônus da má gerência da empresa: o crime de Brumadinho que consolida a imagem criminosa da empresa pós crime em Mariana; os acordos agora judicializados do crime do Rio Doce que criou a Fundação Renova que de nada serve e, mais recente, a derrubada do preço das commodities por causa da pandemia que faz a empresa passar por cima de qualquer resquício de humanidade, colocando e homens e mulheres na rua para fechar seu balanço anual", critica a entidade.
O MAB reforça que, a empresa, aproveitando desse momento de grave crise internacional se saúde pública, expõe seus trabalhadores ao desemprego e desamparo.
"A Vale viola direitos humanos como uma prática cotidiana, transformando estes direitos em oportunidade para aumentar seus lucros e a exploração do trabalho. Para os trabalhadores e trabalhadores deixa demissões, descaso e abandono; para os atingidos e o conjunto da sociedade, deixa rejeito nos rios, pó preto, doenças, criminalização da luta e um modelo de desenvolvimento que deixa um rastro de prejuízos nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo há muitas décadas".
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