Fonte: O Globo
Calcula-se que São Paulo responda por 60% da cana plantada no Brasil. Mas, nos últimos quatro anos, 26 usinas fecharam no estado. Segundo produtores e usineiros, é a pior crise em 30 anos e os custos superam o preço do etanol.
— É crise que não passa. Investimento em tecnologia parou aqui — diz Antônio Eduardo Tonielo Filho, presidente do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis.
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Para a consultoria MBF Agribusiness, o endividamento do setor é histórico, mas houve uma sobrecarga em 2006, quando muitos apostaram na produção do etanol como substituto do petróleo. Esse movimento levou ao aumento dos custos de produção e baixou o preço final do produto. O problema se intensificou a partir de 2008, na crise internacional, com menos crédito disponível. O diretor da MBF, Marcos Françóia, lembra que os empresários têm parcela de culpa pela situação, acumulando anos de gestão com resultados ruins.
Dono da destilaria Pignata, que fechou há pouco mais de três anos, Hélio Pignata, de 82 anos, diz que havia incentivos do governo federal para a produção de etanol. Por isso, migrou da cachaça para o álcool combustível. Pequena para os padrões do setor, a Pignata chegou a produzir 10 milhões de litros por safra, mas se viu enrolada em dívidas, segundo o usineiro, de R$ 50 milhões. Entrou em processo de recuperação judicial e foi assumida pelo empresário Ricardo Mansur, ex-dono do Mappin e da Mesbla. Mas ele acabou devolvendo-a ao descobrir que a dívida chegava a quase R$ 100 milhões.
— O preço do etanol não compensava. Quanto mais eu moía cana, mais meu prejuízo aumentava. Por isso, decidi fechar — diz Pignata.
A usina Albertina interrompeu a produção em Sertãozinho em 2012, após quatro anos de recuperação judicial. Na época, repassou à multinacional francesa Louis Dreyfus o direito de assumir 8 mil hectares em contratos de arrendamento de cana. Deixou um rastro de milhares de demitidos, boa parte moradores do distrito de Cruz das Missões.
Vanderlei Mariano dos Santos, de 55 anos, trabalhou por 25 anos na Albertina como destilador. Casado e pai de três filhos, diz que recebeu apenas o FGTS, mas as multas contratuais pela demissão não foram pagas e está brigando na Justiça. Hoje, é motorista de caminhão e ganha menos da metade dos R$ 2,3 mil que recebia na usina.
Entre os cerca de 2 mil pequenos fornecedores de cana da região para as demais usinas de Sertãozinho, o horizonte também não é positivo. Este ano, a seca reduziu a produtividade de até 90 toneladas por hectare, a média do estado, para 71 toneladas por hectare. Com menos cana para moagem, algumas usinas, como a São Francisco, encerraram a safra em outubro em vez de novembro. Para a próxima, a previsão é de 40% de queda. Muitos estão vendendo ou arrendando parte de suas terras para grandes grupos internacionais como saída para não se endividarem mais, diz Manoel Ortolan, diretor da Canaoeste, que representa esses produtores:
— Esperamos que o governo anuncie o aumento de 25% para 27,5% da adição de etanol na gasolina em 2015. Seria uma alta de 1,2 bilhão de litros.
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