Fonte: Valor
A queda das margens no segmento de fertilizantes nos últimos anos tem colaborado para reduzir os investimentos no país de um modo geral, segundo especialistas consultados pelo Valor. E a consequência dessa contenção é a disparada das importações de insumos, que aumentam ano após ano e atendem a cerca de 70% da demanda doméstica,
cada vez mais robusta.
Conforme Rafael Ribeiro, analista da Scot Consultoria, também faltam incentivos tributários para promover novos aportes, que precisam ser "pensados" no longo prazo e são necessários para, no mínimo, acompanhar a tendência de crescimento da produção agrícola nacional. É difícil estimar se os preços ao produtor rural recuariam com uma maior produção no país, uma vez que esse mercado é referenciado pelas oscilações no exterior, mas certamente o movimento conferiria maior garantia de fornecimento e reduziria os gastos com demurrage nos portos.
As importações cresceram 10,6% somente em 2013, para 21,6 milhões de toneladas, e estabeleceram um novo recorde, conforme a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Essas compras custaram US$ 8,885 bilhões, 3,51% mais que em 2012, segundo a Secex/Mdic. Entre 1989 e 2011, lembra David Roquetti Filho, diretor-
executivo da Anda, citando dados da Associação Internacional da Indústria de Fertilizantes (IFA), a taxa média de avanço das importações brasileiras foi de 8,95% ao ano, ante um avanço médio global de 2,1%.
]Os números consideram os principais nutrientes usados na fabricação de fertilizantes: nitrogênio, fósforo e potássio (NPK).
Para se ter uma ideia do descompasso que marca o segmento, a produção nacional cresceu apenas 4% entre 2003 e 2013, para 9,305 milhões de toneladas, enquanto as importações aumentaram 47,2% na comparação, para 21,619 milhões. No início de 2010, quando a Vale retornou ao mercado de fertilizantes por meio da aquisição do controle da
Fosfertil e de outros ativos da Bunge no país, a expectativa era que haveria uma guinada nessa tendência. Mas isso não ocorreu.
Uma fonte do segmento confirma que a Vale está atualmente mais reticente em relação aos investimentos em fertilizantes do que quando retornou ao segmento, quando uma outra equipe comandava a empresa e tinha "vocação" para o segmento. "Quando a Vale entrou no setor de fertilizantes, as margens no setor também eram maiores", diz.
Mas os preços internacionais dos fertilizantes recuaram, principalmente no ano passado, em linha com a redução das cotações das principais commodities agrícolas. E os custos de produção no país aumentaram, puxados principalmente pela mão de obra, conforme a fonte. Por isso, diz, a Vale está "refazendo" suas contas.
Rafael Ribeiro, da Scot consultoria, observa que os preços dos fertilizantes caíram pelametade em 2009, depois da crise financeira mundial, mas se recuperaram desde meadosde 2010. Embora tenham recuado em 2013, no início deste ano voltaram a subir, diante
da forte demanda.
O cenário em 2013 também não foi positivo para outras grandes multinacionais do segmento, que em geral registraram lucros menores. A canadense Potash teve lucro líquido 45,36% menor no quarto trimestre de 2013 em relação ao mesmo período de 2012. A também canadense Agrium registrou queda de 72% no resultado líquido no mesmo intervalo.
O lucro da americana Mosaic recuou 42,1% em todo o ano passado,
enquanto a norueguesa Yara amargou uma redução superior a 90% em seu lucro líquido no quarto trimestre de 2013.
Embora seja pequena a participação dos fertilizantes dentro dos negócios da Vale, a empresa ainda é o maior participante neste mercado no país, por isso a expectativa que gera. Daí porque depois que a companhia suspendeu o projeto de potássio Rio Colorado na Argentina, que era voltado para abastecer o Brasil, e diante das dúvidas que cercam o futuro do projeto Carnalita, cresceu a frustração no segmento.
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