Incerteza, imprevisibilidade e falta de clareza. A pouco mais de dois meses para o fim do ano, o cenário para 2016 ainda está nebuloso para onze associações empresariais de diferentes setores da economia: de supermercadista a calçadista, de plásticos a químicos, de vidro a embalagens, de máquinas e equipamentos a imobiliário, além do automobilístico.
No momento em que as empresas olham para frente para definir seus orçamentos e decisões de investimento para o ano seguinte, não se vê horizonte de recuperação. E as dúvidas comprometem os planos de negócios e levam a uma estratégia de defesa. Sem confiança no potencial da economia, a cautela é palavra de ordem. Poucos se arriscam a estimar os números para a variação do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 e menos ainda em 2017.
Ao fundo, o técnico naval Rodrigo Marti. Ele se matriculou na escola de Papai Noel após tentar, sem sucesso, voltar a atuar em sua área
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— Para fazer previsões sobre economia hoje é mais fácil falar com o pai de santo que com as associações de classe. Não dá para fazer previsões para o ano que vem, apenas estabelecer faixas. Por exemplo, nossa expectativa é que o PIB caia entre 1% e 2%, que o dólar fique entre R$ 4,30 e R$ 5… Mas são faixas muito grandes — afirma o diretor de competitividade da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Mario Bernardini.
Mais do que apenas preocupados com a situação atual, economistas e representantes de associações se ressentem da falta de perspectivas. A crise política contaminou a economia e torna mais delicado esse cenário, apontam. Como diz Marcos Lélis, consultor da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) e professor da Unisinos, numa crise política “o cenário fica indeterminado, é um movimento meio aleatório”:
— Ainda não se consegue enxergar 2016.
Mais enfático, o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, ressalta que embora não se esperasse um ano de 2016 “brilhante”, a expectativa era de interrupção da queda:
— Não é o que vemos agora. O primeiro semestre está comprometido, até pelo efeito do que se carrega de 2015. O que se vê para 2017 é que estamos empurrando a tal retomada esperada para 2016, mas também não há garantia. Hoje não há clareza de nada, pode acontecer tudo ou nada. Infelizmente, não dá para prever 2017. A forte e rápida deterioração das expectativas assusta quem precisa levar em consideração a conjuntura para definir os planos da empresa e levanta suspeitas sobre novas pioras nos números. Até julho, o Boletim Focus do Banco Central — que reúne as projeções das principais instituições financeiras —, previa estabilidade da economia em 2016. Agora, estima recuo de 1,22%. Em 2015, espera-se uma queda de 3%. Isso significa dois anos seguidos de recessão, fenômeno que não é observado no Brasil desde 1930/1931, segundo a série das Estatísticas para o Século XX, do IBGE. Para 2017, a previsão é de alta de 1%, segundo o Focus.
— Ouvi essa frase e tenho repetido. Quem me dera estar no fundo do poço. O ano de 2016 ainda é uma grande interrogação — lamenta o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Rodrigues Martins.
Não que se esperasse um ano de 2016 de forte crescimento, mas havia expectativa de reação.
— O ano de 2016 não está 100% comprometido, mas será muito difícil. A depender do que acontecer agora, pode-se comprometer inclusive 2017 — diz a diretora de Economia e Estatística da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fatima Giovanna Coviello Ferreira.
Como aponta o Departamento de Economia e Pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), fazer previsões no momento atual é atividade “muito complicada”. Em setembro, foi feita estimativa de recuo de 0,8% do PIB em 2016: “Desde então, o cenário não se firmou e continuou a piorar. Antes de divulgar novas projeções, vamos esperar desdobramentos e torcer para que já tenhamos atingido o fundo do poço”, informou a Abras.
Diante desse quadro, o superintendente da Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro), Lucien Belmonte, destaca a “angústia” daqueles responsáveis pelos planos de negócios das empresas:
— Quando não se sabe qual será o amanhã, o que se tem é angústia. O empresário está angustiado.
E esse clima de compasso de espera compromete investimentos. Presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho argumenta que, “na incerteza, não são feitos novos projetos, não se investe e não se contrata, ao contrário, pode-se demitir”. Para a retomada do investimento, ele defende que é necessária a restauração da confiança.
Enquanto isso não ocorre, associações relatam a tendência de uma postura defensiva e de uma estratégia de sobrevivência das empresas. Nesse clima, investimentos em aumento de produção ou novas fábricas, por exemplo, ficam adiados:
— Sem clareza, o empresário investe minimamente, como na troca de uma máquina quebrada. É um investimento de defesa, não é um investimento de ataque, de novas fábricas — diz Pimentel.
Para setores cujo ciclo de produção é mais longo — como é o caso do imobiliário e de químicos, por exemplo—, o comprometimento é maior.
— Entre o estudo para a compra do terreno e a conclusão do empreendimento, o prazo médio é de cinco anos. Sem saber o que vai acontecer, não se dá início ao processo. No momento, pode ocorrer uma ou outra compra de terreno, mas só quando há oportunidade — explica o presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz Fernando Moura.
Apesar do pessimismo, há quem ressalte a importância de postura ativa. Revisão de processos, mudanças nos modelos de negócios, redução de ineficiências e melhorias na gestão são medidas sugeridas para reduzir o impacto da crise e se preparar para a retomada.
— Não se sabe quanto tempo a situação vai demorar e não podemos controlar a macroeconomia. As empresas devem olhar para seus negócios e avançar no que é possível. Não se pode ficar parado e refém da situação — diz a presidente da Associação Brasileira de Embalagem (Abre), Gisela Schulzinger.
EXPORTAÇÕES COMO ALTERNATIVA
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, afirma ter convicção do potencial a médio e longo prazo da economia e do mercado automotivo. Ele cita investimentos da ordem de R$ 7 bilhões anunciados por montadoras. A General Motors anunciou aporte extra de R$ 6,5 bilhões no período de 2014 a 2019, a Volkswagen revelou planos de R$ 460 milhões para uma fábrica de motores e a Hyundai investirá R$ 100 milhões num centro de pesquisa.
O que se salva do cenário atual é o potencial das exportações, citado sistematicamente pelas associações. O dólar alto aumentou a competitividade dos produtos brasileiros no exterior. Insumos importados, porém, ficam mais caros e abrem espaço para que fornecedores brasileiros conquistem espaço antes ocupado por estrangeiros.
— Quem já exporta vai reforçar essa estratégia e quem não exporta vai correr atrás. É uma possível saída, mas não é imediata nem tem força para compensar todo o resto — diz Bernardini, da Abimaq.
Fonte: O Globo
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