A JBS, maior empresa mundial do ramo frigorífico, é a que tem mais trabalhadores infectados
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou hoje (13) nota pública em que
denuncia a contaminação em massa pelo novo coronavírus entre trabalhadores da
agroindústria, da mineração e construção civil. Estão sendo afetadas
comunidades camponesas e povos tradicionais que trabalham nesses setores.
Conforme a nota, amparadas por políticas equivocadas, as empresas descumprem
protocolos de segurança, levando ao aumento da contaminação e de mortes pela
covid-19.
Além
disso, a violência no
campo continua. Fazendeiros, grileiros de terra, escravagistas,
madeireiros, mineradoras e empresas de energia não estão em quarentena. E para
complicar, o incentivo governamental ao uso de agrotóxicos e ao desmatamento
favorecem a dinâmica da produção de grãos, de minérios, madeira e energia, e
desautorizam instâncias de fiscalização trabalhista e ambiental. O resultado
são danos aos trabalhadores, inclusive com trabalho escravo, e também ao meio
ambiente.
A nota traz dados da
Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias da
Alimentação (CONTAC-CUT), que estima a contaminação de pelo
menos 200 mil dos cerca de 800 mil funcionários do setor. Metade desses
trabalhadores foram infectados em atividades nas cadeias produtivas de aves,
suínos e bovinos. Apesar de denúncias, não há medidas preventivas.
Recomendações
ignoradas
A CPT destaca que as
empresas do setor não se prepararam para seguir as recomendações da Organização
Mundial da Saúde (OMS) no enfrentamento à pandemia. Tanto que, até o último dia
7, o Ministério Público do Trabalho (MPT) já havia aberto processos na Justiça
para interdição de 11 frigoríficos em seis estados, após denúncias de
contaminação de funcionários. Seis deles chegaram a ser fechados, mas reabertos
logo depois, mediante Termos de Ajustamento de Conduta – TACs. Outras 213
investigações estavam em curso em 22 estados para apurar denúncias semelhantes.
A JBS, maior empresa do
ramo é também a que tem mais trabalhadores contaminados. Em Passo Fundo (RS),
dos 400 empregados testados, 180 tinham a doença – situação que se repetiu em
outras duas unidades no estado. Em Goiás, foram em torno de 700 contaminados na
unidade de Rio Verde. Todo o município, um dos principais centros do
agronegócio, somava 9.751 casos, com 140 óbitos, até o último dia 6. Em
Rondônia, 60% dos casos de covid-19 em São Miguel do Guaporé são de
funcionários da JBS. Entre eles, dois quilombolas, que levaram a doença para
sua comunidade.
Construção civil
As comunidades
camponesas têm sido contaminadas também pela atuação da construção civil. Na
Bahia, trabalhadores foram infectados em canteiros de obras da Andrade Gutierrez, que
está montando linhas de transmissão de energia no estado. São 34 casos em Nova
Holanda, no município de Pilão Arcado, e outros 28 em Angico, município de
Campo Alegre de Lourdes. Empresas construtoras de parques eólicos são grandes
focos contaminação dos mais de 100 casos ocorridos em Pindaí e Palmas de Monte
Alto, também na Bahia.
Em Minas Gerais,
trabalhadores da empreiteira Cobra Brasil, em Jaboticatubas, a 60 quilômetros
de Belo Horizonte, foram contaminados. A empresa, que pertence ao Consórcio
Mantiqueira Transmissora de Energia, do grupo Brookfield, instala linhas de
transmissão por vários municípios, inclusive o Vale das Cancelas, distrito de
Grão Mogol, no norte do estado. Nesta região, os direitos territoriais
tradicionais da comunidade geraizeira estão sendo desrespeitados.
Mineração
Na mineração, até o
último dia 5 havia 20.362 casos confirmados e 152 mortes pela covid-19 em
Parauapebas (PA). A cidade, que se formou e cresceu em função da mineradora Vale,
enfrenta um colapso no sistema de saúde, o que agrava a situação. No final de
maio, o complexo minerador da Vale em Itabira (MG), a 105 quilômetros de Belo
Horizonte, foi interditado, após fiscais do trabalho identificarem 200
funcionários infectados – 10% do total da unidade.
Para a CPT, os
esforços do Estado, das empresas e de toda a sociedade devem priorizar a
solidariedade com os cidadãos, famílias, comunidades e povos em situação de
vulnerabilidade social, alimentar e sanitária. “Por que a questão é: até quando
a sociedade vai suportar a tragédia em andamento sem agir à altura para uma
mudança real?”, questiona a comissão.
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