O “vácuo” de perspectiva vivido pelos consumidores brasileiros explica a intensificação da queda no consumo das famílias ao longo de 2015. A avaliação é de Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular. No terceiro trimestre deste ano, o recuo foi de 4,5% em relação a igual período do ano passado, o pior desempenho da série do IBGE, iniciada em 1996.
“Consumo depende de renda e expectativa, tudo que estão ganhando e a expectativa de que pode entrar no crediário, de que pode não segurar o dinheiro. Com a situação de hoje, de aumento do desemprego e queda na renda média, ele deixa de ter FGTS, que é uma poupança para comprar casa própria, e deixa de ter a segurança do seguro-desemprego”, observa Meirelles.
“Em resumo, ele fica mais pessimista, e pessimistas consomem menos”.
Com o desempenho do terceiro trimestre, o consumo das famílias acumula retração de 1,8% nos últimos 12 meses. Um dado dessa magnitude no fechamento do ano já seria o pior desde 1990. Desde então, o consumo das famílias teve, no máximo, uma queda de 0,7% em 1992 e 1998.
A Rosenberg Associados já projeta retração de 3,7% no consumo das famílias neste ano, seguida de queda de 2,9% no ano que vem. “As incertezas com o futuro do mercado de trabalho fazem com que as pessoas temam se realmente vão continuar no próprio emprego. Isso freia o consumo”, disse a economista chefe da Rosenberg, Thais Zara. A recuperação depende de melhora generalizada da economia, começando pelo quadro fiscal dos governos, avalia.
“SE virômetro”. As classes C e D sofreram mais com a inflação este ano, uma vez que preços como energia elétrica, que subiram muito, têm peso relevante no orçamento dessas famílias. Além disso, esses brasileiros têm menor acesso a crédito e não contam tanto com reservas. “O que é favorável é que o ‘se virômetro’ deles é maior”, nota Meirelles. “Esses consumidores não têm todas as ferramentas para se proteger, mas estão mais dispostos a se virar”.
Investimento cai outra vez
Rio de Janeiro. A taxa de investimento de 18,1% no terceiro trimestre deste ano foi a menor para terceiros trimestres desde 2006. Àquela época, estava em 17,5%. A taxa é a relação entre a Formação Bruta de Capital Fixo (investimento) e o PIB.
Os setores produtivos também diminuíram seus gastos devido à falta de confiança na economia. Os investimentos em máquinas, equipamentos e na construção tiveram queda de 4% frente ao segundo trimestre.
Mais sobre o PIB
Cana, café e laranja
A queda de 2% no PIB da agropecuária ante o mesmo trimestre de 2014 foi puxada pela expectativa de perdas nas lavouras de cana de açúcar, café e laranja. A safra dos três vai encolher.
O peso da Petrobras
O Ministério da Fazenda afirmou que contribuíram para a retração da economia os efeitos diretos e indiretos da redução dos investimentos da Petrobras e situações específicas de alguns de seus fornecedores, notadamente na área da construção civil.
Incertezas econômicas
Outro ponto identificado pela Fazenda para justificar o resultado foi a queda do consumo e as incertezas econômicas que persistem.
Importação beneficia
A queda nas importações, por causa da alta do dólar, permitiu que o setor externo desse contribuição positiva para o PIB. As importações recuaram 6,9% sobre o segundo trimestre. As exportações também (-1,8%), mas a queda foi menos intensa, e é essa combinação que gera a contribuição positiva.
Fonte: O Tempo
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