A publicitária Michelle Do Verge participou de quatro amigo-ocultos no Natal de 2014. Neste ano, não entrará em nenhum. “Na minha família, decidimos que só vão participar as crianças menores de 10 anos”, afirma. A família em questão tem dez adultos e três crianças, ou seja, se ano passado foram 13 presentes, neste ano serão apenas três. No trabalho, o amigo-oculto foi cancelado por “falta de adesão”, afirma. Para ela, “é nítido que é por causa da crise”. As amigas de Michelle, que trocaram presentes em 2014, agora também preferiram evitar.
Segundo uma pesquisa realizada pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), 51% dos entrevistados não vão participar de amigo-oculto neste Natal, e 15% ainda não se decidiram. Apenas 34% já definiram participar da brincadeira: 24% na família, 5,3% entre amigos e 4,7% no trabalho.
A bióloga Aline Damásio também restringiu os presentes às crianças. “Sempre compramos presentes para todos e fazemos um amigo-oculto, mas neste ano os presentes serão só para as crianças. Optamos por fazer nossa festa no Natal, mas com essas restrições”, diz Aline, que tem quatro irmãos e reúne dez adultos, um adolescente e cinco crianças na ceia. “É hipocrisia gastar com um monte de presente, roupa, e no mês que vem estarmos todos lascados com as contas extras. Melhor economizar em tudo que pudermos e não ficarmos sufocados no mês de janeiro”, avalia.
Valor menor. No caso do professor de física Helbert Wagner Ramalho Nascimento, o amigo-oculto é uma forma de economizar. “O amigo-oculto surgiu na minha família para reduzir: um presente só em vez de um para cada irmão e cunhada”, explica. Por isso, sua opção para 2015 é a redução do valor dos presentes já que, como professor do Estado, enfrentou o atraso no pagamento do 13º salário. “Será a famosa lembrancinha”, afirma.
Para Elce Pimentel Seixas, 84, matriarca de uma família que reúne 26 pessoas no Natal, a crise foi o motivo que a fez decidir cancelar o amigo-oculto. “Com essa crise, não tem necessidade. Vamos economizar para 2016, que vai ser ainda pior”, opina. Segundo Elce, só um dos filhos tem sete membros na família. “Se for R$ 30 para cada, sairia por R$ 210. Fica caro”, diz.
Já o gerente de projetos Daniel Gomes optou por não comprar presentes neste Natal para auxiliar parentes que são vítimas da crise financeira. “Minha cunhada é bióloga, ficou sem projeto porque as mineradoras pararam tudo neste ano. Aí a empresa de consultoria fechou”, conta Gomes.
Tecnologia
Ajuda. Sites e aplicativos ajudam a gerenciar o amigo-oculto. Entre os sites são opções: amigosecreto, sorteioamigosecreto e amigosecretoweb. Os apps são Amigo Oculto e Amigo Secreto Lite.
Alternativas
Ideias para substituir o amigo-oculto convencional
Chocolate. Já ganhou até apelido: amigolate; os participantes trocam barras ou caixas de bombom
Livros. O título deve ser usado. A vantagem é que o “amigo-oculto” já leu e tem certeza que a obra é boa
Bolo. Cada participante faz um bolo para presentear. Uma alternativa econômica e gostosa
Desenho. Opção para crianças, cada uma faz um desenho exclusivo para presentear alguém
“Nota de R$ 50 vira trocado por nada”
Inflação, desemprego e o receio de que ambos aumentem em 2016 são os principais motivos que fizeram as pessoas declinarem do amigo-oculto de fim de ano. “Antes você conseguia comprar uma lembrancinha com R$ 20. Agora não consegue mais”, afirma a publicitária Michelle Do Verge.
O gerente de projetos Daniel Gomes lembra da alta do dólar. “É bom lembrar que a alta do dólar e a inflação corroeram bem o poder de compra, muita gente já notou isto. E, em dezembro, vários impostos vão sofrer reajuste. Hoje em dia, nota de R$ 50 vira trocado por nada”, analisa Gomes.
Ele trocou os presentes de Natal para ajudar a cunhada a fazer uma cirurgia de mais de R$ 2.000 no cachorro de estimação. A cunhada é bióloga, e a consultoria onde trabalhava fechou em função da crise das mineradoras no Estado. “Quem dependia do ciclo de commodities em alta e do dinheiro do governo fluindo para empreiteiras e construtoras, direta ou indiretamente, está sofrendo as consequências da crise”, afirma. Para Gomes, uma parte da população “está sem qualquer preocupação”, outra parte já “impactado por desemprego ou falta de crédito” e o restante “ressabiado com o futuro”. “Quem vive da iniciativa privada está ou desempregado ou com o freio de mão puxado”, diz.
“O dinheiro que gastávamos sem complicação, hoje, completa as contas. Tudo está caríssimo, lista de escola, férias. Fico preocupada por qualquer quantia. E isso é geral, vejo todo mundo assim”, completa Michelle.
Fonte: O Tempo
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