Desde outubro, a família da artesã Silvana Pinto Rodrigues de Paula cresceu. Além das filhas, Ana Carolina e Júlia, a “Maria” também entrou para a família. É assim, apenas Maria, como se fosse uma pessoa, que elas se referem à empresa recém-criada, a fábrica de peças em cerâmica, Maria, a Louça. Se a marca é recente, a história vem do final dos anos 1990, quando Silvana começou a decorar pratos, xícaras e outras peças. “Eu estava perdendo o entusiasmo e estava quase desativando o ateliê. Foi quando elas (as filhas) resolveram criar uma marca, dar uma cara nova. E veio a Maria, para resgatar o entusiasmo”, conta.
Ana Carolina conta que ela e a irmã já pensavam em revitalizar o negócio da mãe, mas faltava tempo. Ela é designer de produtos e Júlia, designer gráfica. Cada uma tinha um emprego convencional, até que Carolina, como gosta de ser chamada, foi demitida. Foi a chance que ela precisava para mergulhar no novo projeto.
A construção da identidade do trabalho começou pelo nome da empresa. Maria, a Louça, é uma brincadeira com a rainha portuguesa conhecida como "Maria, a Louca" no século XVIII. Também faz referência à tradicional porcelana portuguesa, pintada em azul e à origem da família. Com o conceito definido, elas partiram para parcerias com artistas que criaram frases e ilustrações especialmente para a marcar. “Não são produtos exclusivos, mas são linhas limitadas”, explica Carolina.
Histórias como a da família de Silvana e Carolina estão cada vez mais comuns no Brasil. Pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) mostra que, em 2002, o empreendedorismo no Brasil era feito por necessidade.
De cada dez empresas abertas naquele ano, seis foram fundadas porque seus proprietários não tinham outra alternativa de negócio. Desde então, cresceu o número de empreendedores por oportunidade - aqueles que se preparam para ser empresários, conhecem o mercado e buscam um bom nicho. Hoje, eles são a maioria: 70,6% das empresas são abertas por oportunidade.
Planejamento. Mesmo na crise, o consultor da Endevor, especialista em empreendedorismo, Ênio Borges, aposta na continuidade dos negócios bem planejados. “Os empreendedores de oportunidade vão continuar a crescer porque há nichos de mercado que não são bem atendidos”, diz.
A analista do Sebrae-MG, Sabrina Campos, afirma que, em tempos difíceis para a economia, com falta de emprego, é natural as pessoas com habilidades manuais buscarem o empreendedorismo porque precisam de uma fonte de renda. “Para conseguir que o negócio se sobressaia em meio à concorrência, é preciso saber transformar a necessidade em oportunidade, o que pode ser feito buscando informações gerenciais e capacitação”, destaca.
Negócios nascem em casa
Quando o mercado de trabalho fechou as portas para ela, a analista de controle de qualidade, Michele Carvalho, descobriu na cozinha de casa uma forma de garantir uma renda. “Quando meu filho nasceu, eu resolvi parar de trabalhar fora por uns três anos. Mas ele fez três anos quando a crise chegou e eu não encontrei emprego”, conta. Foi aí que decidiu usar o talento para cozinhar e fazer produtos personalizados para criar a Confeitê.
Michele investiu cerca de R$ 3.000 em equipamentos e cursos e já colhe os frutos. “Cresceu muito mais rápido do que eu pensei”, afirma ela, que pretende continuar a fazer cursos e vai formalizar o negócio em janeiro. Começar uma empresa em casa para só depois registrar é um caminho comum para micro e pequenos empresários.
“Uma pessoa que perdeu o emprego e sabe fazer um quindim gostoso, vai fazer e vender. Isso com certeza vai começar na informalidade, que nós não apoiamos, mas a chance de dar certo e virar uma empresa depois é grande. Quantas empresas de doces, chocolates e até confecção já começaram assim?”, diz o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Bruno Falci.
Ele afirma que o brasileiro é empreendedor por natureza e sabe unir vocação com a necessidade, como fez Michele.
“Na minha família sempre foi assim, em toda festa ‘Michele, faz isso’,‘Michele, faz aquilo’, então, resolvi investir nisso e, agora, quero me profissionalizar mesmo”, conta.
Por enquanto, a nova empresa vive de propaganda boca-a-boca, mas a logomarca já está pronta e a página no Facebook está em construção.
Fonte: O Tempo
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