Fonte: O ESTADO DE S.PAULO
A balela oficial sobre as maravilhas do mercado de emprego, repetida com insistência e até com arrogância pela presidente Dilma Rousseff e por sua trupe, foi mais uma vez desmentida por dados oficiais sobre a redução do emprego na indústria. Em julho, o pessoal empregado diminuiu 0,7% - na quarta queda mensal consecutiva - e ficou 3,6% abaixo do registrado um ano antes. A principal fonte de empregos de qualidade, a indústria, continua encolhendo, como têm comprovado as principais fontes governamentais de informação, a começar pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O aumento da produção industrial de junho para julho, 0,7%, nem foi suficiente para compensar a queda anterior, de 1,4%, e repor a atividade no nível de maio.
As condições de emprego no setor são hoje piores do que na crise mundial de 2008-2009, segundo o técnico Rodrigo Lobo, da Coordenação de Indústria do IBGE. Segundo a pesquisa, a ocupação no setor chegou a um ponto 7,3% inferior ao do pico, atingido em julho de 2008. Caiu a um degrau até mais baixo que o de junho de 2009, quando a queda havia chegado a 7%. Naquele momento, a economia brasileira começava a sair da recessão iniciada no ano anterior.
De janeiro a julho o emprego industrial ficou 2,6% abaixo do registrado nos primeiros sete meses do ano passado. Em 12 meses, a queda chegou a 2,2%. Nesse período, o número de horas pagas diminuiu 2,6%, mas a folha de pagamento real, isto é, descontada a inflação, ainda cresceu 0,1%. Apesar da crise, o custo da mão de obra ficou quase
estável, com pequeníssima alta, numa evolução só explicável pela escassez de mão de obra com alguma qualificação.
Ao longo da crise e apesar das demissões, o peso da folha de pessoal aumentou e continuou pressionando o custo de produção e a capacidade competitiva das empresas.
Durante anos, como já foi mostrado várias vezes, o salário industrial cresceu bem mais que a produtividade. Essa foi a tendência observada em vários setores - um fator de pressão inflacionária, segundo o Banco Central, e um entrave ao poder de competição e ao crescimento, num país cada vez mais dependente de ganhos de produtividade para
avançar. A expansão econômica baseada na incorporação de contingentes importantes de mão de obra está esgotada, segundo indicam respeitados analistas, e só aumentos significativos de eficiência elevarão o potencial produtivo do País.
O emperramento da indústria é indisfarçável, especialmente a partir de 2011. A produção industrial cresceu 0,4% naquele ano, diminuiu 2,3% em 2012 e aumentou 2,1% em 2013, sem sequer voltar ao nível de dois anos antes. De janeiro a julho deste ano, ficou 2,8% abaixo dos meses correspondentes de 2013. A oferta de vagas também se reduziu, embora os empresários, no início, tenham procurado manter os quadros. O emprego industrial se elevou 1% em 2011, recuou 1,4% no ano seguinte e diminuiu mais 1,1% em 2013. De janeiro a julho de 2014 recuou 2,6% em relação ao ano anterior.
Soam grotescas, diante desses dados, as declarações da presidente e de seu séquito a respeito da criação de postos de trabalho no Brasil. Para começar, a taxa de desemprego divulgada mensalmente é verificada em apenas seis áreas metropolitanas. Uma taxa pior foi apontada mais de uma vez pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, com cobertura de 3.500 municípios, mas o último relatório dessa série foi o do primeiro trimestre. Foi apontado um desemprego de 7,1%.
Em segundo lugar, os números de contratos formais divulgados pelo Ministério do Trabalho confirmam: a criação de vagas tem sido concentrada nos serviços, em geral de baixa produtividade e remuneração modesta, e no setor público. Segundo esses dados, provenientes da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), o número de empregos formais em 2013 foi 3,14% maior que em 2012, com aumento de 1,49 milhão. Quase dois
terços, 64,5%, foram criados em serviços (558,6 mil) e na administração pública (403 mil). É esse o grande sucesso do governo Rousseff na geração de empregos.
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