Nesse contexto, a unidade de ação
do movimento sindical na luta pela preservação dos direitos e conquistas
— de trabalhadores do setor privado, dos servidores públicos e dos
aposentados e pensionistas — será fundamental, sob pena de retrocessos,
com a consequente perda de qualidade de vida do assalariado. A
capacidade de resistir é que irá determinar se haverá ou não perda e,
havendo, qual será seu tamanho e dimensão.
Antônio Augusto de Queiroz*
Qualquer que seja o desfecho do processo de impeachment, já é
possível antecipar quem será o maior prejudicado nessa história: o
assalariado. Aliás, o simples debate sobre a possibilidade de
impedimento da presidente da República, por si só, já tem o condão de
criar insegurança e travar os investimentos, públicos e privados, com a
consequência negativa sobre o emprego e a renda.
A deterioração das finanças públicas, com a queda de receitas, de um
lado, e o aumento das despesas, especialmente com juros, de outro, serão
utilizados como pretexto para aprofundamento do ajuste, seja qual for o
desfecho do processo de impeachment. Com isso, a investida sobre
direitos parece inexorável.
Mesmo que a presidente se livre do processo do impeachment — e para
tanto precisa do apoio de apenas um terço da Câmara ou do Senado —
rejeitando-o no Congresso Nacional, o governo sairá enfraquecido desse
embate e dificilmente terá condições de turbinar a economia de imediato
nem força política para impedir mudanças na legislação trabalhista e
previdenciária. Será obrigado a fazer concessões aos poderes econômico e
político em troca da promessa de retomada dos investimentos e de apoio
no Congresso.
Se for aprovado o processo de impeachment — e para tanto são
necessários dois terços dos votos da Câmara e do Senado em votação
aberta — haverá uma mudança radical no governo, com a posse do
vice-presidente Michel Temer, que assume o poder para concluir o mandato
presidencial. Com isso, sai o programa do PT e entra o do PMDB.
O programa do PMDB, expresso no documento “Ponte para o futuro”,
propõe: 1) a desindexação geral, inclusive da correção dos benefícios
previdenciários e do salário mínimo; 2) a desvinculação orçamentária,
especialmente das despesas com educação e saúde; 3) a privatização
selvagem, como forma de fazer caixa com a venda de ativos; 4) a abertura
da economia, com o fim do conteúdo local ou nacional; 5) a livre
negociação, com a prevalência do negociado sobre o legislado nas
relações de trabalho; 6) a nova reforma da previdência, com aumento da
idade mínima e desvinculação do salário mínimo como piso de benefício
previdenciário, entre outros.
É claro que um programa retrógrado e
medieval como esse pode sofrer ajustes – e certamente acontecerá – mas
alguns de seus itens poderão ser implementados, tanto por pressão do
poder econômico, quanto por exigência de partidos liberais que
integrarão a coalizão de apoio ao novo governo, inclusive muito da base
atual e quase todos da atual oposição.
Nesse contexto, a unidade de ação do movimento sindical na luta pela
preservação dos direitos e conquistas — de trabalhadores do setor
privado, dos servidores públicos e dos aposentados e pensionistas — será
fundamental, sob pena de retrocessos, com a consequente perda de
qualidade de vida do assalariado. A capacidade de resistir é que irá
determinar se haverá ou não perda e, havendo, qual será seu tamanho e
dimensão.
Para ter sucesso nessa luta conjuntural, portanto, é fundamental que o
movimento sindical, além de unido e mobilizado, invista na formação e
qualificação de novos quadros para fazer o embate no chão da fábrica ou
nos locais de trabalho e também nos espaços institucionais,
especialmente no Congresso Nacional e no Poder Executivo. O protagonismo
do movimento sindical em defesa dos trabalhadores estará em teste nos
próximos meses. Temos que estar preparados.
(*) Jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap
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