Em 2015, a Globo Comunicação e Participações S.A. e suas
subsidiárias registraram um lucro líquido de R$ 3,066 bilhões, o que significa
um acréscimo de 30% em relação ao valor alcançado em 2014 (R$ 2,357 bilhões).
No último balanço, o Grupo Globo
retomou a curva ascendente no lucro líquido, já que em 2014 havia obtido um
ganho 6% menor do que o de 2013 (R$ 2,503 bilhões).
Curiosamente, os resultados de 2015
inverteram os sinais: se, no ano anterior, o rendimento caiu apesar do aumento
de receita, desta vez, o aumento no lucro líquido ocorre num momento em que o
faturamento da atividade-fim está em descenso.
Em 2009, ano de crise mundial, o lucro
líquido da Globo foi de apenas R$ 1,904 bilhão. Recuperou-se em 2010, com um
pico vertiginoso de R$ 2,744 bilhões, mas, em 2011, o lucro voltou a cair para
R$ 2,167 bilhões. Depois, teve novo pico em 2012, com R$ 2,948 bilhões, para,
logo em seguida, sofrer forte queda em 2013, quando atingiu R$ 2,503 bilhões de
lucro líquido. Em 2014, mais uma baixa, com lucro de R$ 2,357 bilhões.
Em 2015, mesmo com redução na receita,
os números mostram novo revés e contrastam com o cenário de crise econômica
profunda que o jornalismo do grupo anuncia diariamente. Os resultados foram
divulgados em relatório administrativo publicado, no último dia 18 de março, no
Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro e no site do Grupo Globo dirigido a
investidores.
Receita em queda
A receita líquida com vendas,
publicidade e serviços, principal fonte da Globo, foi reduzida em mais de R$
700 milhões: passou de R$ 11,889 bilhões, em 2014, para R$ 11,167 bilhões, em
2015, considerando somente as empresas diretamente controladas, que constituem
a Globo Comunicação e Participações S.A.
Apesar disso, a redução, que não chega
a 6%, é relativamente compensada na consolidação do faturamento do grupo.
No resultado consolidado com as
subsidiárias, o impacto negativo foi menor, com a receita caindo de R$ 16,243
bilhões, em 2014, para R$ 16,045 bilhões, em 2015, numa baixa inferior a R$ 200
milhões, bem menos significativa. De toda forma, a redução, que atinge
especialmente as receitas da controladora, interrompe uma sequência de
crescimento que o grupo mantinha desde, pelo menos, 2010.
Vale ressaltar que, em 2014, houve
forte incremento com os direitos de exibição e transmissão, aqueles
relacionados à transmissão e à exibição de filmes, eventos ao vivo e outros
direitos. “Os eventos ao vivo compreendem principalmente os direitos de
transmissão dos campeonatos de futebol”. Se, em 2013, a Globo (somente a
controladora) havia tido um saldo negativo de R$ 308,69 milhões, em 2014,
conseguiu o relevante valor de R$ 279,02 milhões positivos, resultado da venda
dos direitos de transmissão da Copa da Fifa.
Em 2015, de volta ao número negativo:
perda de R$ 608,34 milhões nessa rubrica, apesar de o relatório apontar que
esses valores são “amortizados” após a transmissão das partidas cujos direitos
adquiriu.
Por outro lado, acompanhando as
receitas, os custos da controladora relacionados com a mesma rubrica (vendas,
publicidade e serviços), principal despesa do grupo, também tiveram uma pequena
baixa, atingindo R$ 7,059 bilhões em 2015 – no ano anterior, chegaram a R$
7,109 bilhões. No entanto, nos dados consolidados com todas as empresas, houve
aumento destes gastos em mais de R$ 300 milhões – de R$ 8,508 bilhões, em 2014,
para R$ 8,830 bilhões, em 2015.
Ganhos financeiros
Em todo relatório de administração,
como faz qualquer pessoa jurídica, a Globo aponta o “resultado financeiro”, que
provém de receitas e despesas relacionadas à negociação de títulos e valores
mobiliários, ganhos e perdas cambiais decorrentes da conversão de ativos e
passivos monetários em moeda estrangeira, entre outros instrumentos financeiros
e derivativos cujas “flutuações são incluídas como receita financeira”.
Apesar de a Globo ser uma sociedade com
acionistas, trata-se de um grupo fechado – ou seja, sem oferta de ações nas
bolsas. Mesmo assim, um dado que chama a atenção é a brusca mudança dos
resultados financeiros registrada em 2015, se comparado ao ritmo percebido nos
anos anteriores.
Como mostra a tabela abaixo, apesar de
as despesas financeiras terem saltado quase 50% de 2013 (R$ 530,04 milhões)
para 2014 (R$ 875,4 milhões), o saldo caiu mais de 80% (de R$ 219,79 milhões
para R$ 42,74 milhões).
Em 2015, o Grupo Globo aumentou para R$
1,471 bilhão as despesas financeiras, com uma receita de mais de R$ 2,100
bilhões, gerando um saldo de R$ 629,08 milhões, o que representou mais de 20%
do lucro líquido registrado no exercício.
Ou seja, mesmo sem estar imersa no
instável e, hoje, quase imprevisível mundo das bolsas, o grupo vem ganhando
bastante com a intensa oscilação do mercado financeiro, especialmente com a
vulnerabilidade do câmbio e com a subida da taxa básica de juros.
No próprio relatório, a Globo faz
referência a operações de swap e hedge, que são operações de troca de posição
entre investidores que buscam cobertura de risco e de rentabilidade. Esses
instrumentos envolvem a reversão de taxas de juros prefixadas em pós-fixadas
(ou vice-versa), no caso do swap, ou a compra e a venda simultâneas de moedas
estrangeiras, no caso do hedge (também conhecido como swap cambial).
“Compromisso inalienável com o Brasil”
O relatório de administração do Grupo
Globo foi auditado, ou seja, finalizado no dia 08 de março, quatro dias depois
da “condução coercitiva” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e
divulgado dez dias depois, quando o país já estava no auge da crise política
que envolve amplos setores da sociedade civil.
Embora, na apresentação do balanço, os
proprietários da Globo assegurem que estão “cada vez mais comprometidos com a
nossa missão de criar, produzir e distribuir conteúdos de qualidade que
informem, eduquem e divirtam, criando valor para todos com quem nos
relacionamos” e destaquem que “temos um compromisso inalienável com o Brasil e
com a sociedade brasileira”, nos últimos meses, sobretudo, como o Blog do
Intervozes tem mostrado, tornou-se notório o engajamento das emissoras do Grupo
Globo na construção de uma narrativa sobre a crise.
Abrindo mão de qualquer isonomia e
ponderação, sua cobertura tem sido fundamental para revestir de legalidade e
legitimidade a tentativa de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Como os dados mostram, não é certo apontar
uma suposta crise financeira dos irmãos Marinho como causa maior para o
posicionamento em defesa da mudança de um governo que não enfrentou o seu
poder.
Afinal, os governos petistas sempre
buscaram ajudar o grupo tanto financeiramente quanto politicamente, sobretudo
diante de medidas que poderiam impactar profundamente a radiodifusão
tradicional, como a digitalização dos sinais da TV.
No entanto, as notas do grupo nas
“agências de risco” internacionais naufragam juntamente com as do país. A crise
também não o favorece, porque subtrai ingressos de verbas publicitárias e de
outros projetos junto a empresas privadas.
Politicamente, sua participação no
processo mostra capacidade de direção e incidência em um momento histórico de
recomposição das forças de poder no País e de questionamentos sobre a
importância da radiodifusão, dada a presença da internet.
Além disso, não é possível descartar a
afinidade de seus dirigentes e mesmo dos jornalistas, como este blog também tem
mostrado, com o pensamento conservador que cresce no País.
Trata-se, portanto, de uma costura de
interesses políticos e econômicos, permeada por aspectos simbólicos, que parece
levar o principal conglomerado midiático da América Latina a buscar um cenário
mais confiável e estável, no qual exerça, mais uma vez, a sua hegemonia.
Para os analistas dos meios de
comunicação, fica o desafio de compreender as motivações do Grupo no bojo dos
eventos do presente e, decididamente, dos que serão desenrolados no caso de uma
mudança no controle do poder político do país.
Fonte: Carta Capital
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